Resseguro local terá mais competição a partir de 2017, estima IRB Brasil Re
28.09.2016 - Fonte: Risco Seguro (Via Sindseg-SP)
Para Tarcísio Godoy, mudança nas regras de transferência deve influenciar concorrência, mas empresa tem “diferencial” para manter fatia de mercado O presidente do IRB Brasil Re, Tarcisio Godoy, estima que haverá mais competição no mercado de resseguros brasileiro em decorrência das mudanças promovidas pela Resolução 322, publicada em julho do ano passado e que começam a valer de forma progressiva a partir do ano quem vem. Ele não teme, no entanto, uma eventual perda de mercado por parte da maior resseguradora brasileira. Segundo Godoy, que assumiu o cargo em junho, o IRB tem uma vantagem competitiva em relação “a qualquer outro ressegurador”: a forte presença local. “[A empresa] conhece o risco, tem uma proximidade muito grande do segurado; isso, somado a todo o investimento que foi feito na companhia, é um diferencial competitivo muito grande”, afirmou ele à Risco Seguro Brasil após participar de painel no 10º Seminário de Controles Internos e Compliance, promovido em 22/9 pela CNSeg, a confederação das empresas de seguros . “Estamos preparados para competir.” Para o presidente da empresa, mais importante do que a fatia de cada competidor no setor é “discutir como fazer o mercado crescer”. “Mais competição é bom para o cliente e bom para o IRB”, defendeu. A Resolução 322 prevê redução gradual na obrigação de cedentes em oferecer a resseguradores brasileiros um parcela do resseguro. O porcentual de 40% passará para 30% em 2017, para 25% em 2018, 20% em 2019 e 15% em 2020. Por outro lado, os limites de transferência entre empresas do mesmo grupo, de 20% dos prêmios de resseguro, chegarão a 75% em 2020. A resolução reverteu parcialmente medidas de proteção tomadas em 2011 e deve gerar mais operações intragrupo internacionais que atuam no país. De qualquer forma, a tendência nesse período é que o IRB passe a atuar neste mercado como companhia aberta. O IPO (lançamento inicial de ações, na sigla em inglês), que vem sendo aguardado com expectativa pelo mercado segurador, estava previsto para ser realizado neste ano. As condições adversas da economia fizeram a empresa postergar a medida. De acordo com informações circuladas na imprensa, a crise econômica derrubou o valor potencial de arrecadação com o lançamento de ações da resseguradora. Agora, a expectativa é de que o IPO seja feito no ano que vem. Troca Uma das razões apresentadas para a transferência de Godoy para o IRB — segunda troca de comando na companhia em menos de um ano — foi acelerar o lançamento das ações. O atual presidente, no entanto, não demonstra ansiedade com a medida e é sucinto ao responder ao questionamento de quando ela deverá ocorrer. Segundo ele, o IPO será realizado quando “os sócios entenderem ser o melhor momento”. Antigo monopólio estatal por 69 anos, o IRB Brasil Re tem como principais sócios a União (27,4%), BB Seguros (20,4%), Bradesco Seguros (20,4%), Itaú Seguros (14,9%) e o fundo de participações da Caixa Barcelona (9,8%). A empresa domina cerca de metade dos prêmios de resseguros do país. Godoy passou pela Bradesco Seguros, na qual foi responsável pela área de compliance. Antes de se transferir para o IRB, ocupava o cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda, que teria deixado por “diferenças de temperamento” com o ministro Henrique Meirelles. Em agosto de 2015, José Carlos Cardoso substituiu Leonardo Paixão na presidência da resseguradora. Paixão ocupava o cargo desde 2010; Cardoso continua na diretoria da empresa. Crise Tarcisio Godoy acredita que a partir do ano que vem a crise da economia brasileira deve começar a ser revertida. “A depender da qualidade da aprovação das medidas propostas pelo governo, vai se ter uma retomada boa, muito boa ou até excelente”, diz ele. “A economia brasileira é muito dinâmica e com grande capacidade de recuperação.” De acordo com os balanços publicados, o IRB vem obtendo bons resultados mesmo com as dificuldades da economia em geral. No primeiro semestre liderou a lucratividade entre todas as resseguradoras mundiais. O desempenho, segundo ele, se deve à eficiência técnica e também pelo crescimento das operações fora do Brasil — houve aumento de 30% nas subscrições no mercado internacional. Além disso, diz o executivo, a indústria de resseguro é caracteristicamente mais resiliente. “Uma fábrica para de vender automóvel, mas ainda assim tem de cuidar de preservar o capital fixo”, exemplifica. Apesar disso e dos bons resultados do IRB, globalmente, grandes resseguradores sofreram um baque, segundo os resultados apresentados no primeiro semestre. Mercado brando Sobre o longo ciclo brando pelo qual passa o resseguro mundial, Godoy alinha-se aos analistas que avaliam que o cenário deve prosseguir. “Ainda vai ter um bom tempo de mercado soft, em função do excesso de liquidez no mundo”, diz ele. “Os bancos centrais ainda estão com políticas de relaxamento monetário para motivar o crescimento econômico; isso se reflete em todo o segmento [de resseguro], que faz uso intensivo de capitais.” Godoy participou em setembro do tradicional encontro anual de resseguradores globais realizado em Monte Carlo. No evento, alguns de seus pares apresentaram indícios do que pode vir a ser o início do fim do ciclo brando, ainda que muitos analistas vislumbrem continuidade da situação atual. Segundo o presidente do IRB, isso deve prosseguir enquanto se mantiverem as políticas de “relaxamento monetário”, que pode ser traduzido por juros baixos — ou mesmo negativos — nos mercados desenvolvidos.