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Previdência privada espera crescer mesmo se reforma não for aprovada

08.02.2018 - Fonte: Correio Braziliense | Paula Pacheco

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Bancos de varejo e seguradoras descartam as mudanças nas aposentadorias em seu planejamento de negócios para 2018 e apostam na diversificação de produtos para conquistar novos clientes Apesar de ser a alternativa escolhida pelo governo para diminuir a pressão sobre as contas públicas, o projeto de reforma da Previdência Social ainda não conseguiu atravessar o caminho entre o Palácio do Planalto e o plenário da Câmara dos Deputados. Sem apoio entre os parlamentares e com os bolsos esvaziados para negociar cargos e verbas, o governo, que, até a semana passada, era categórico ao dizer que conseguiria aprovar o projeto em fevereiro, agora admite não ter votos suficientes na Casa. Já se sabia nos bastidores que o Planalto não conseguia fechar as contas para ter votos suficientes na Câmara e aprovar a reforma da Previdência, mas, ontem, Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo, jogou a toalha em público. Durante evento com empresários na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o ministro confirmou que o governo ainda não tem votos suficientes, o que ele admitiu ser uma “má notícia”. Mas que o presidente Michel Temer se mantém “obstinadamente envolvido nesse processo”. Para os bancos de varejo e seguradoras que vendem produtos de previdência privada, no entanto, vale a expressão “vida que segue”. Essas instituições financeiras estão aproveitando as taxas consistentes de crescimento da última década e intensificado suas estratégias para aumentar as adesões, independentemente das novas regras para a aposentadoria serem aprovadas. Se a votação ocorrer neste mês ou no próximo governo, isso não afeta o planejamento dos negócios nesse segmento, dizem os executivos. Isso acontece, principalmente, porque os brasileiros estão cada vez mais atentos à possibilidade de a Previdência quebrar e, por isso, cresce a preocupação os reflexos dessa insolvência no pagamento da aposentadoria. “O mercado de previdência privada tem crescido muito nos últimos anos, mas a impressão que se tem é de que isso não tem relação com as questões políticas em torno da reforma”, analisa Gilvan Cândido da Silva, coordenador do MBA em Previdência da Fundação Getulio Vargas (FGV-Brasília). Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), o setor fechou outubro com R$ 752,22 bilhões em ativos administrados, volume 18,94% superior aos R$ 632,42 bilhões registrados em outubro de 2016. Para o especialista, a expansão tem a ver com a preocupação cada vez maior dos brasileiros em relação ao futuro da Previdência. “As pessoas estão mais preventivas por causa da incerteza sobre o sistema previdenciário, por isso vão buscar a segurança do plano privado”, opina. Silva não acredita que o mercado de previdência privada possa viver uma onda de adesões e depois arrefecer. Isso porque, segundo o professor, a atual proposta de reforma da Previdência não vai conseguir reverter a situação deficitária. “Isso só reforça a tendência desse mercado crescer nos próximos anos a uma velocidade ainda maior”, pontua. Sem impacto imediato Diretor de distribuição, corporate e pension da Zurich, Carlos Tejeda explica que a seguradora não postergou suas decisões por conta da demora na aprovação das regras da Previdência. “Seja neste ano ou em 2018, em um novo mandato, a reforma na aposentadoria não terá um impacto imediato. Se ela for aprovada em fevereiro, por exemplo, só deveremos sentir os primeiros efeitos ao longo do segundo semestre. Mas não temos esperado por isso”, diz. Segundo Tejeda, a seguradora já vem se adequando ao aumento da base de clientes de planos de previdência no Brasil. “Temos nos preparado para um mercado que vem crescendo. Um exemplo são os produtos com volumes menores de contribuição e o aumento da participação dos canais digitais, que permitem um acesso mais rápido à contratação do plano”, detalha o executivo. A Porto Seguro também preferiu seguir com seus planos de crescimento sem atrelá-los ao Palácio do Planalto ou ao Congresso Nacional. “Preferimos focar no dia a dia da operação. O mercado está muito aquecido, por isso preferimos aumentar tanto o treinamento dos corretores quanto a oferta de novos produtos. Neste momento em que a procura pela previdência privada vem crescendo, temos de fomentar nosso canal de venda e investir em campanhas para aumentar ainda mais esse interesse”, acredita Fernanda Pasquarelli, diretora de Vida, Previdência e Investimentos da empresa. Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, o maior desafio para o setor hoje é desenvolver produtos mais atrativos em um ambiente de taxa básica de juros mais baixa (7%), com opções de planos de previdência que possam substituir investimentos tradicionais. “Podemos aproveitar a migração dos investidores com perfil mais conservador da renda fixa para os fundos multimercado e outros produtos mais sofisticados”, afirma. Edson Franco, que preside a FenaPrevi, é categórico ao dizer que a velocidade na aprovação da reforma da Previdência não impacta nos negócios. “A reforma terá de ser feita, seja agora ou no próximo governo. O desempenho do setor nos últimos dez anos, com uma taxa de crescimento de dois dígitos ao ano, vai se manter no mesmo ritmo, independentemente de quando aconteça a votação do projeto do governo”, analisa o presidente, que também comanda a Zurich. Para Franco, o bom desempenho deve se manter porque, apesar de mocimentar bilhões de reais, o setor ainda tem uma participação baixa em relação ao Produto Interno Bruto (cerca de 10%), o que indica um potencial de crescimento. Regras mais flexíveis aumentaram atratividade Em setembro do ano passado, o Conselho Nacional de Seguros Privados aprovou novas regras que possibilitam aos fundos de previdência privada que invistam até 100% dos recursos em ações. Além disso, eles ganharam sinal verde para cobrar taxa de performance. Antes só era permitido cobrar a taxa de administração. Quem aderir a um plano de previdência pode comprar fundos que invistam até 100% em ações. Até a mudança, esse número não podia passar de 49%, ou seja, o risco era menor à volatilidade do mercado de capitais. Outra novidade foi a possibilidade de contratar o benefício, com famílias de produtos chamadas PGBL Programado e VGBL Programado. O cliente passou a ter a possibilidade de mudar como vai receber os recursos ao longo do período de acumulação dos valores investidos.

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