Previdência privada aposta em crescimento no cenário econômico
31.05.2023 - Fonte: CQCS com informações do Valor
Com mais de R$ 1,25 trilhão sob gestão, o mercado de previdência privada aberta aposta em melhora no cenário econômico no segundo semestre de 2023 para acelerar as vendas. O setor amargou três anos de alta nos resgates, que somaram mais de R$ 300 bilhões, confia que juros e inflação possam cair para alívio do crédito e para a volta do fluxo de investimentos e de negócios no país. As informações são do site Valor Econômico.
Soma-se a isso o fato de que a segunda metade do ano é a “safra boa” da previdência, porque possui estímulos como 13º salário, pagamento de bônus e fechamento das contas para abater no Imposto de Renda (IR) do ano seguinte – privilegiando, neste caso, o produto Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), que permite descontar 12% das contribuições.
Modalidade de investimento mais resilientes, a previdência vem perdendo tração, devido sucessivas crises, com queda de renda e alto índice de desemprego dos brasileiros, ainda assim continua avançando, em ritmo menor. Tanto que, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), a captação líquida saiu de R$ 60 bilhões em 2017 para R$ 33 bilhões em 2022, pressionada pelos resgates que atingiram R$ 122,87 bilhões no ano passado.
Os números do primeiro trimestre de 2023 também não aliviaram, com o resultado líquido encolhendo 15,4%, para R$ 5,29 bilhões, e os resgates avançando 9%, para R$ 34,02 bilhões, ante o mesmo período de 2022. “A previdência é investimento de longo prazo, mas se as pessoas enfrentam dificuldades financeiras, é natural que possam usar parte de seus recursos. Se a economia melhorar, elas voltam a investir”, diz Carlos Godim, diretor estatutário da FenaPrevi.
Com quase 11 milhões de contribuintes, o setor vê espaço para crescer, mas, enquanto o avanço não vem de geração de novas riquezas, a disputa se dá mais pelo jogo do “rouba monte”. Como esses aportes são livres de impostos quando se faz portabilidade dos recursos de uma casa para outra, quem souber “seduzir” mais o investidor, oferecendo melhores condições de taxas, rentabilidade e assessoramento, leva.
Este é o caso da XP, que vem despontando na liderança do ranking de portabilidade da Superintendência de Seguros Privados (Susep) há três anos. Só em 2022 conquistou R$ 13,72 bilhões vindos de instituições financeiras concorrentes. E, mesmo perdendo R$ 3,14 bilhões, o saldo ficou positivo em mais de R$ 10 bilhões. Neste primeiro trimestre, embolsou mais R$ 3,25 bilhões (saíram R$ 1,21 bilhão). Deve ser por isso que sua seguradora, que tem quatro anos de vida, desponta no ranking das seis maiores do Brasil, com R$ 49 bilhões em reservas.
Com 400 mil clientes em previdência, a XP considera que há oportunidades a serem capturadas dentro de sua plataforma de investimentos, que possui mais de quatro milhões de pessoas. Para isso, tem lançado de cinco a dez produtos com gestores parceiros por mês, cerca de cem no total. Outro ponto é que sua portabilidade, em média, vem de seguradoras ligadas a grandes bancos.
Mas o ranking de portabilidade da Susep pode mostrar outra realidade. Os bancos Itaú e BTG despontam na segunda e terceira colocação dos que mais capturaram recursos tanto em 2022 quanto em 2023. O Itaú absorveu R$ 7,61 bilhões no ano passado e perdeu R$ 5,64 bilhões, enquanto no BTG entraram R$ 6,57 bilhões e saíram R$ 471,87 milhões. No primeiro trimestre, o resultado continua com saldo positivo para os dois.
Com R$ 228 bilhões em carteira, sendo R$ 200 bilhões só de pessoa física, o Itaú fechou o primeiro trimestre deste ano com o saldo positivo de R$ 1 bilhão na portabilidade e espera por um segundo semestre mais aquecido. O banco alerta que tem feito muita realocação de recursos de investimentos de seus clientes entre produtos do próprio Itaú, considerando as mudanças de cenários.
“Só em 2022, realocamos R$ 11 bilhões internamente, porque analisamos junto com os clientes o que fazia mais sentido. Olhamos o cliente como um todo, e não só com foco em previdência”, observa Claudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco. A instituição tem mais de 150 produtos na prateleira de previdência e parceria com 50 gestores independentes. Segundo ele, o tíquete médio de entrada baixou nos últimos anos até para produtos mais sofisticados. “Em 95% dos 150 produtos o cliente pode entrar a partir de R$ 1. E alguns são produtos bem sofisticados. Ninguém entra com R$ 1, mas tem gente que entra com R$ 50.”
Houve evolução nas grandes instituições financeiras ao abrirem suas prateleiras para outros gestores distribuírem seus produtos, mas em previdência o movimento demorou um pouco mais do que no resto da indústria de fundos, devido a antigas restrições legislativas, que foi flexibilizando aos poucos, mas ainda mantém algumas travas.
Além dos consultores técnicos, a Brasilprev, maior empresa de previdência do país, aposta na educação financeira por meio das redes sociais e com parcerias com influenciadores digitais. Com R$ 349,3 bilhões em sua carteira de investimentos ao longo de 2022, a empresa implementou iniciativas como a plataforma FuturEd, que disponibiliza gratuitamente conteúdos sobre educação financeira e previdenciária. Lá, influenciadores digitais conversam com o público jovem sobre planejamento financeiro. Outra ação é o Projeto Vida na Ponta do Lápis (PVPL), que oferece palestras para alunos de escolas e entidades sociais. Os planos começam com contribuições a partir de R$ 100 e têm produtos que atrelam acumulação de recursos a seguro de vida, no caso de perda do titular do plano.
Houve aumento na portabilidade em 2022 e no primeiro trimestre deste ano, com saldos negativos de R$ 6,96 bilhões e R$ 1,18 bilhão, respectivamente. “Observamos que muitos clientes passaram por processos de portabilidade e migraram para planos que não eram adequados ao seu perfil, incorrendo em perdas significativas logo após a portabilidade”, diz Ângela Assis, presidente da Brasilprev.
A empresa considera que o open insurance trará melhores formas de comparação das opções disponíveis para os investidores, que serão os principais beneficiários deste processo. “Para ajudar os clientes a tomar melhores decisões e a entender seu perfil previdenciário, a Brasilprev tem oferecido assessoria e informações de acompanhamento cada vez mais personalizadas”, diz Assis. Outra aposta da empresa é em tecnologia para melhorar a experiência digital. “Um dos destaques é o nosso canal de WhatsApp, que atende a mais de cem mil clientes a cada mês.”
Para a Bradesco Vida e Previdência, 2023 deve ser um ano de virada. A seguradora vinha se ressentindo de cinco anos de captação líquida negativa e conseguiu fechar 2022 com R$ 100 milhões no azul ante R$ 1,5 bilhão negativo em 2021. Com total de reserva no primeiro trimestre em R$ 284,3 bilhões, contou com uma captação líquida positiva no período de R$ 600 milhões, ante menos R$ 864 milhões no mesmo período de 2022. “Devemos fechar com captação líquida positiva em R$ 1,5 bilhão em 2023 e total de reservas com crescimento ao redor de 10%. Este será o ano de virada e consolidação da virada”, afirma Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência.
A seguradora está investindo nos seus canais de comunicação para facilitar o entendimento, tirar a complexidade do produto e chegar a mais pessoas, porque defende que, apesar da diminuição do ritmo, o setor continuará a crescer. “Tem lição de casa da indústria para explorar o potencial teórico da previdência. Tem que simplificar a mensagem para democratizar, pois demanda latente continua a existir”, diz Scripilliti, que aumentou o número de peças de comunicação do banco com o cliente final, com e-mails, vídeos e canais digitais. A iniciativa visa estancar também a portabilidade, que para o Bradesco foi negativa em R$ 4,61 bilhões em 2022 e em R$ 928,36 milhões no primeiro trimestre de 2023.
Até a Icatu, que das seguradoras independentes era a que menos sofria com perdas elevadas de portabilidade, vem sofrendo revés nós últimos 15 meses encerrados em março de 2023, com saídas líquidas de R$ 3,19 bilhões. A seguradora, que conta com R$ 50 bilhões em previdência, diz que o desafio é o da educação financeira e da sensibilização para chegar a mais clientes.
“Queremos que o nosso produto seja distribuído em mais canais, em plataformas de investimentos, em redes de varejo, canais de alta renda, canais corporativos, com mais corretores e por meio de parceiros”, afirma Henrique Diniz, diretor de produtos de previdência da Icatu. A seguradora tem mais de 250 parceiros para a distribuição de seus 150 fundos e dois mil corretores na força de vendas. “Fechamos parceria com a plataforma Grão, do Thiago Nigro. Todas essas parcerias impulsionaram nossa carteira total de clientes, que em 2022 cresceu 11%, com 45 mil novos clientes.”
É consensual entre os especialistas que o maior gatilho para cima ou para baixo da previdência é o cenário econômico. Para a SulAmérica, é preciso haver um ciclo virtuoso da economia para que esta indústria volte a avançar com o vigor do passado. “Se tem renda estabilizada ou com crescimento tímido, não tem apetite grande para previdência”, diz Marcelo Mello, CEO de investimentos, vida e previdência.
Com reserva de R$ 10,1 bilhões em fevereiro deste ano, a seguradora registrou captação líquida positiva nos dois primeiros meses do ano de R$ 100 milhões e estima fechar 2023 com crescimento superior a 11%. Para isso, deve contar com o saldo de portabilidade, que no primeiro trimestre está positivo em R$ 96,84 milhões. Além de considerar que sua grade de produtos é bem competitiva, a seguradora oferece serviços agregados a seus investidores, como o SOS Prev, no qual o cliente pode usar a reserva de previdência como garantia para tomada de crédito. “Ele pode pedir crédito por até dez anos, com taxas competitivas de 1,5% ao mês, porque a garantia é alta. É uma forma de não resgatar a previdência e retermos a carteira. No primeiro bimestre deste ano, a carteira do SOS Prev cresceu 60% e concedeu de 2020 para cá R$ 16 milhões em empréstimos”, conta Mello.
A Zurich aposta nas parcerias estratégicas e ligadas ao mundo dos investimentos para crescer. A meta é dobrar sua atual carteira de R$ 3 bilhões para R$ 6 bilhões em período de três a cinco anos. “A Zurich é uma companhia multicanal e estou otimista com 2023. Temos parceiros digitais importantes, como o EQI, que atua com público jovem que quer investir. Nós associamos também a Saks, que acessa públicos diferenciados, e a Onze, que faz vendas de planos corporativos, além da Genial”, afirma Rodrigo Barros, diretor-executivo de vida, previdência e capitalização.