O seguro do futuro
22.11.2016 - Fonte: IstoÉ Dinheiro
Conheça as insurtechs, startups que, por meio de aplicativos, preparam uma revolução no mercado segurador brasileiro Fintechs. Agrotechs. A lista de neologismos que representam as inovações no setor bancário e agrícola ganhou mais um nome. São as insurtechs, termo criado a partir da fusão das palavras insurance (seguros) e technology. As insurtechs são empresas de base tecnológica que buscam renovar o mercado segurador. No Brasil, os nomes mais conhecidos são a Youse, plataforma virtual da Caixa Seguradora, uma joint venture entre o banco estatal e a francesa CNP Assurance, e as independentes Thinkseg e Minuto Seguros. Esses recém-chegados se inspiram em companhias como a americana Lemonade. Fundada há três anos, ela está revolucionando o negócio e atraiu investidores como o bilionário Warren Buffett. Focada em apólices residenciais, a Lemonade, que atua só na cidade de Nova York, oferece uma cobertura mensal a partir de US$ 5 para o morador e a partir de US$ 35 para o proprietário. Com doses cavalares de tecnologia, incluindo o uso de Big Data para analisar informações das redes sociais, a companhia dispensa os corretores. Em dezembro passado, os fundadores Shai Wininger e Daniel Schreiber receberam US$ 13 milhões em capital semente dos fundos Sequoia e Aleph Capital, cifra elevada para empresas nesse estágio. Mas a parceria com a National Indemnity, braço segurador da Berkshire Hathaway, de Buffett, deu uma forcinha aos meninos. E isso é só a ponta do iceberg. Os investimentos globais em insurtechs passaram de US$ 740 milhões em 2014 para US$ 3,1 bilhões em 2015, segundo a consultoria espanhola Everis. É uma cifra modesta: equivale ao que as seguradoras americanas gastam anualmente com publicidade. A expectativa, porém, é que as insurtechs movimentem trilhões de dólares em alguns anos. Por aqui o avanço é mais lento, pois os seguros seguem uma regulamentação pesada, A Youse ainda não tem o aval da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia que regulamenta o setor, para atuar como seguradora. Ela funciona como uma distribuidora da Caixa Seguradora, sob o comando de Eldes Mattiuzzo, que em 2011 fundou a corretora online de seguros Bidu. Em junho, a Youse colocou no ar um site e um aplicativo oferecendo seguros de vida, residenciais e automotivos, estes cobrindo só a perda total do veículo. “Mais de 25% dos nossos clientes compram os seguros pelo aplicativo”, diz Mattiuzzo. O restante usa a internet para comparar preços, mas não dispensa o bom e velho telefonema antes de fechar negócio. Hoje, os seguros automotivos respondem por 60% da receitas, mas a ideia é diversificar o portfólio. Para isso, a Youse recrutou profissionais de empresas digitais como OLX, Netshoes e UOL. “Estamos pesquisando novas tecnologias para, futuramente, oferecer um seguro automotivo com base na quilometragem, ou apólices que podem ser ativadas e desativadas conforme a necessidade, destinadas a equipamentos como bicicletas, máquinas fotográficas e celulares”, diz Mattiuzzo. Dinheiro não deverá ser problema. A Youse já investiu R$ 100 milhões dos R$ 400 milhões alocados para a empreitada. Porém, muitos dos produtos planejados dependem de mudanças na regulamentação. Seguros são um negócio de família para Marcelo Blay, fundador da Minuto Seguros. Ele é neto de Abrahão Garfinkel, que comprou a Porto Seguro nos anos 1970, e sobrinho de Jayme Garfinkel, que a transformou na maior seguradora independente do País. Sua empresa pode ser confundida com uma corretora tradicional, pois emprega mais de 300 pessoas. A diferença, porém, está na forma de venda. “Captamos as informações do cliente por meio de um aplicativo no celular, e trabalhamos os dados de modo a adequar o produto ao segurado e romper a inércia da renovação”, diz. Os preços podem cair de 10% a 25% ante uma renovação tradicional, pela redução da comissão e pela atenção aos detalhes. “É comum o cliente contratar um seguro que protege o teto solar de um carro que não possui esse acessório”, diz ele. Outra recém-chegada é a Thinkseg, nova empreitada de André Gregori, que até setembro de 2015 era CEO da seguradora e resseguradora do BTG Pactual. A Thinkseg, que deve receber R$ 100 milhões em investimentos nos próximos cinco anos, quer criar um marketplace que reúna seguradoras, corretores e consumidores. O sistema usa dados de redes sociais e algoritmos, e promete efetivar a contratação do seguro em menos de um minuto após o preenchimento do cadastro online pelo consumidor. A empresa desenvolveu sua própria metodologia de avaliação de risco, que poderá evoluir para uma unidade de negócio. “Usamos um aplicativo que monitora como o motorista dirige, e a apólice pode ficar até 45% mais barata na renovação, pois saberemos como a pessoa usa o automóvel”, diz Gregori. As novidades da Thinkseg incluem sete dias de Uber, em caso de sinistro, e serviços de assistência. “Cerca de 70% dos segurados brasileiros não usam os serviços que contratam, e nossa proposta é que eles só paguem pelo que usam.” Além do ramo automotivo, há ainda o residencial e o seguro-viagem, mas apólices de vida, previdência privada, saúde e proteção para gadgets devem ser lançados no futuro.