O relato de Tiago de Souza Diniz Martins sobre a tragédia da cheia em Porto Alegre
25.07.2024 - Fonte: Seguro Gaúcho l Andréia Pires
Na noite de 3 de maio, Tiago de Souza Diniz Martins e sua família foram surpreendidos por uma das maiores enchentes que Porto Alegre já viu. O auxiliar de manutenção e morador do bairro Humaitá, conta como tudo aconteceu. "Era por volta das 20h quando eu e minha esposa percebemos que a água estava começando a subir e havia um movimento maior de pessoas deixando o bairro. Duas horas depois, a água já estava na nossa cintura. Precisamos sair de casa rapidamente, levando apenas uma mochila com alguns pertences, documentos, fraldas para nossa filha de 2 anos e itens necessários para nosso filho mais velho, na ocasião com 8 anos, que é autista. Cada um de nós colocou uma das crianças nas costas e saímos sob a chuva intensa. Não sabíamos o que fazer", relembra.
O destino inicial foi o apartamento de uma prima, próximo à Arena do Grêmio, que mora no 11º andar de um prédio. "Naquele momento, a cheia não havia alcançado o local, mas no dia seguinte, 4 de maio, a água já estava na rua, e ficamos ilhados. Na segunda-feira, 6, tivemos que deixar o local de barco. Éramos cinco adultos, uma delas grávida, e duas crianças."
O pai relata que a mudança teve um impacto profundo no filho que está no espectro autista: "Ele já havia sentido a mudança nesses primeiros três dias. A alimentação foi complicada, pois estávamos restritos de alimentos. Além de não esperarem nossa chegada, onde estávamos abrigados, não era possível sair para comprar nada. Quando o resgate começou no condomínio, fomos levados para um ponto da Freeway, onde as pessoas estavam sendo instruídas a irem para outros locais. Dali em diante, era cada um por si".
A retomada e o medo de uma nova catástrofe
O retorno ao bairro Humaitá foi demorado. Tiago não lembra com exatidão quanto tempo se passou até conseguirem voltar, pois a água demorou a baixar, dificultando o acesso dos moradores e a limpeza das residências. E, em meio a todo caos, a sensação coletiva, era de que vivíamos uma sequência de dias iguais. O recomeço, para ele e sua família, tem sido um passo extremamente difícil. "Não temos mais vontade de morar lá por medo de uma nova enchente. Agora que as crianças estão se recuperando do trauma vivido, nossa maior dificuldade tem sido recomeçar em outro lugar. Não temos mais psicológico para ficar lá. No dia da enchente, estava em casa e pude retirar minha família a salvo, mas temo que isso volte a acontecer e eu não esteja junto. Estamos construindo aos poucos em outro lugar, enfrentando dificuldades com materiais de construção”.
Movimento SOS Enchente RS
A casa teve os dois pavimentos atingidos, resultando na perda de móveis, eletrodomésticos, roupas e outros pertences, e o casal que não possuía nenhum tipo de seguro, vem encontrando algum alívio financeiro nos programas do Governo Federal. "Isso foi importante para nos auxiliar em parte do que perdemos," acrescenta. Dentro deste contexto, o Movimento SOS Chuvas RS também foi um grande apoio. "Recebemos kits escolares para as crianças, que ficaram muito felizes. Para mim, foi confortador ver meus filhos felizes. Também recebemos material de limpeza e valores via PIX. A ajuda de pessoas, instituições e familiares nos faz sentir seguros e acolhidos”.
Fotos: Arquivo pessoal