O impacto das enchentes na Saúde Pública do Rio Grande do Sul
16.07.2024 - Fonte: CQCS
Recentemente, o estado do Rio Grande do Sul sofreu com diversas calamidades causadas por desastres climáticos que afetaram mais de 2 milhões de pessoas e resultaram em 179 mortes. Após dois meses das enchentes, a região vem se reconstruindo. No entanto, além da destruição física, não podemos deixar de considerar o impacto na saúde pública, que até o momento é afetada e ainda pode assolar por muito tempo as vítimas atingidas. A população vem sofrendo com a onda de doenças causadas por essas pós-tragédias, prevendo-se uma tendência de aumento significativo nos casos de diversas doenças infecciosas, como diarreias, problemas respiratórios, leptospirose, hepatite A e dengue.
O especialista, ouvido pelo CQCS, esclarece que essas enfermidades virão em ondas, de acordo com as bactérias e outros patógenos, e também devido ao tipo de exposição de risco que as pessoas envolvidas na tragédia tiveram e estão tendo daqui em diante.
O Superintendente de Gestão de Saúde na Alper, Dr. Felipe Silva de Toledo Rodovalho, discorre sobre as principais doenças que podem surgir nesse cenário, sendo a leptospirose a mais preocupante entre os profissionais de saúde. “Se não for feito o diagnóstico e tratamento precoces, a doença pode ser letal”, adverte. Outra doença à qual a população deve estar atenta é a hepatite A, que causa quadros de diarreias agudas, relacionadas à contaminação das águas utilizadas para higiene pessoal e alimentação. “Além dela, devemos ficar vigilantes também a outras doenças que acometem o trato gastrointestinal (viroses, protozooses, verminoses e infecções bacterianas), que podem provocar quadros de desidratação grave se não tratadas adequadamente”, especifica.
Dr. Felipe também chama a atenção para a dengue. “Pelo fato das enchentes gerarem diversos pontos de acúmulo de água, vale ressaltar o risco de proliferação de criadouros dos mosquitos que transmitem a dengue e outras arboviroses”. Outro ponto a ser considerado são as doenças respiratórias que podem ser causadas pelo vírus da influenza e Covid-19, afetando justamente os abrigos devido à quantidade de pessoas aglomeradas e à baixa temperatura da região.
Além dessas, e não se restringindo à margem de doenças contagiosas, o executivo alerta também sobre um ponto importante: o risco de acidentes com animais peçonhentos. “É crucial estarmos vigilantes a animais como escorpiões e cobras, que, diante das enchentes, procuram abrigos em locais secos que coincidem com os mesmos locais em que as vítimas procuram proteção das águas”, pontua.
Para identificar os principais sintomas dessas doenças e possíveis contatos com animais peçonhentos, Dr. Felipe expõe que a principal medida é a vítima procurar atendimento médico diante dos primeiros sintomas.
Grupos de pessoas vulneráveis e quais a principais medidas para diminuição de riscos
Falando sobre o grupo de pessoas mais exposto, Dr. Felipe salienta que, após esses eventos, crianças, idosos e indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos (como pacientes em tratamento de câncer e doenças autoimunes) são os mais vulneráveis a doenças graves.
Dentro desse cenário de inundações, Dr. Felipe analisa que, em situações de inundações, a principal medida protetiva é o uso de quimioprofilaxia (antibióticos) contra a leptospirose, prescritos para pessoas com contato prolongado com as águas, incluindo socorristas e voluntários. Para prevenir doenças gastrointestinais, é crucial higienizar alimentos com hipoclorito de sódio, ferver a água, manter a higiene das mãos e organizar espaços adequados para evacuações nos abrigos. Para evitar a dengue, elimine criadouros de mosquitos e use repelentes.
“Igualmente importante, manter, dentro do possível, a vacinação contra gripe e Covid-19 atualizada. O uso de máscaras em aglomerações deve ser incentivado. É essencial também fiscalizar cobertores, sapatos e outras vestimentas contra a presença de animais peçonhentos”, destaca.
Vale sublinhar o risco de aumento de doenças relacionadas à saúde mental das vítimas. Em calamidades como essa, Dr. Felipe indica que os profissionais de saúde precisam estar aptos a atender e diagnosticar adequadamente quadros ansiosos, depressivos e associados a eventos traumáticos vivenciados pela população do RS.