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O futuro dos carros autônomos e o que isso significa para o mercado de seguros

22.10.2024 - Fonte: Insurtalks

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O filme “O Vingador do Futuro” já imaginava um futuro com carros autônomos, antecipando uma realidade que, hoje, está cada vez mais presente na vida das pessoas. Embora ainda não existam os carros voadores do cinema, os veículos autônomos deixaram de ser ficção e se tornaram parte de uma realidade palpável que está sendo desenvolvida a largos passos. No Brasil, algumas funcionalidades de direção automatizada já estão disponíveis em modelos acessíveis ao consumidor. O desenvolvimento dessa tecnologia exige que o mercado de seguros repense suas estratégias para lidar com riscos e responsabilidades antes inexistentes, mas que exigirá investimento em proatividade tecnológica para que o setor consiga acompanhar as oportunidades ensejadas pela evolução desses veículos.

Progressão técnica dos carros autônomos coloca uma nova gama de riscos e responsabilidades para as seguradoras

Apesar de os carros autônomos habitarem a imaginação das pessoas tal qual são representados na obra cinematográfica “Upgrade: Atualização”, no qual os carros exibem independência plena em relação ao motorista, na vida real o sistema automatizado que substitui o motorista é classificado por seis níveis de operação que vão desde carros sem qualquer tipo de automação até aqueles que conseguem se mover completamente sozinhos, sem intervenção humana. No mercado atual, já é possível encontrar veículos nos níveis um, dois e três, com tecnologias como o piloto automático, assistentes de frenagem e de permanência em faixa. Inclusive, em junho deste ano, a China deu o primeiro passo para autorizar o uso de sistemas de condução autônoma de nível 3. O nível mais avançado, que corresponde aos veículos totalmente autônomos, ainda está em desenvolvimento e sendo testado em ambientes controlados. No entanto, a expectativa é de que, em um futuro não muito distante, esses modelos estejam prontos para ganhar as ruas. Essa progressão técnica coloca uma nova gama de riscos e responsabilidades para as seguradoras, que terão que ajustar suas coberturas para contemplar situações inéditas, como falhas no sistema automatizado e acidentes envolvendo veículos em diferentes níveis de autonomia.

Vantagens dos carros autônomos e oportunidades em seguros

As vantagens dos carros autônomos são muitas, e cada uma delas traz reflexos diretos para o setor de seguros. A interação entre veículos autônomos, por exemplo, permite que eles se movam em conjunto, como em um pelotão, otimizando o trânsito e reduzindo a possibilidade de colisões. A economia de tempo é outro benefício importante: motoristas podem realizar outras atividades enquanto o carro se encarrega da condução e até mesmo de tarefas como estacionamento. Os carros autônomos prometem maior segurança, eliminando os erros humanos que estão por trás de muitos acidentes de trânsito. Com a diminuição de colisões causadas por distração ou cansaço, a redução do número de sinistros pode ser expressiva, o que demandaria uma revisão das políticas de seguros.

Novas coberturas que levem em conta a eficiência energética e os custos de manutenção reduzidos

A sustentabilidade é outro fator relevante. Com a integração dos carros autônomos aos veículos elétricos e movidos a hidrogênio, espera-se que a emissão de poluentes seja reduzida, o que está em linha com as metas globais de diminuição do impacto ambiental. Além disso, a tecnologia autônoma permite que o carro otimize o uso de combustível, resultando em menos recargas e menor desgaste. Para o setor de seguros, essas transformações implicam na criação de novos modelos de cobertura que levem em conta a eficiência energética e os custos de manutenção reduzidos.

Desvantagens e desafios

No entanto, como toda inovação, os carros autônomos também trazem desvantagens e desafios. Um dos principais obstáculos é o preço elevado desses veículos, que ainda são inacessíveis para a maioria das pessoas. Além disso, a implementação dessa tecnologia exige adaptações na infraestrutura das cidades e estradas. Sem placas visíveis, semáforos adequados e sistemas integrados de monitoramento de trânsito, a operação segura dos veículos autônomos fica comprometida. Outro ponto sensível é a confiança do motorista em deixar o controle total nas mãos de uma máquina, um fator que pode retardar a adoção em massa dessa tecnologia. De acordo com André Mendes, professor de Engenharia Mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI), enquanto essas adaptações não forem realizadas de forma ampla, os veículos autônomos enfrentarão dificuldades para navegar com segurança em ambientes imprevisíveis.

Seguros precisarão lidar com decisões tomadas por máquinas em situações extremas

Há ainda questões éticas que precisam ser consideradas, especialmente no desenvolvimento de algoritmos para os carros autônomos. Em situações de risco, como um acidente inevitável, como o sistema decidirá entre salvar o motorista ou um pedestre? Essa complexidade também afeta diretamente o setor de seguros, que precisará lidar com um novo tipo de responsabilidade: a das decisões tomadas por máquinas em situações extremas. O fato de existir notícias sobre acidentes com veículos enquanto estavam no modo direção autônoma ilustra bem esse tipo de preocupação.

Seguros que cubram ataques cibernéticos a veículos autônomos

A vulnerabilidade a ataques cibernéticos é outro grande desafio. Os carros autônomos, por estarem conectados a uma vasta rede de informações, podem ser alvos de hackers que poderiam comprometer tanto a privacidade dos usuários quanto a segurança física dos veículos. Garantir a segurança desses sistemas será essencial para as seguradoras, que precisarão oferecer coberturas específicas para esse tipo de risco. Além disso, apesar de exigirem menos manutenção em comparação aos carros tradicionais, os veículos autônomos demandarão técnicos altamente qualificados para resolver problemas tanto mecânicos quanto de software, o que pode encarecer eventuais reparos.

Estudiosos apontam que a condução manual poderá se tornar uma prática proibida no futuro

No mais recente trabalho dos pesquisadores Vikram Bhargava e Brian Berkey, da Universidade George Washington, nos EUA, que estudam tópicos relacionados às políticas envolvendo as tecnologias digitais, eles apontaram que, com a adoção generalizada de veículos autônomos, a condução manual poderá se tornar uma prática obsoleta e até mesmo proibida no futuro, sendo comparada à direção sob efeito de álcool. Eles argumentam que os carros autônomos poderiam representar uma solução eficaz para a crise de saúde pública que os acidentes de trânsito representam, eliminando a causa mais comum de colisões: o erro humano. Essa perspectiva impõe um novo cenário para o setor de seguros, que precisará repensar completamente suas políticas de cobertura, considerando um futuro em que a condução humana seja exceção.

Carro autônomo criou a profissão de motorista remoto

Em confluência com as ideias defendidas pelos estudiosos mencionados acima, uma matéria da BBC divulgou que Ben Shukman é um dos poucos pilotos especializados em controlar carros autônomos. "Esta é uma nova forma de dirigir, mas ela rapidamente se tornará um hábito. No momento, os motoristas profissionais precisam passar dias e até semanas longe de casa. Eu enxergo esse papel evoluindo para um trabalho de escritório no futuro. Vamos poder ter centros de controle onde centenas de operadores remotos vão trabalhar perto de onde moram. Isso poderia transformar totalmente o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal dos motoristas."

Tal fato demonstra que, mesmo com a automação avançada, ainda haverá a necessidade de intervenção humana em certos momentos. A relevância desse papel tende a crescer à medida que mais carros autônomos surgem nas estradas, o que adiciona uma nova camada de complexidade ao setor de seguros, que deverá criar políticas para lidar com essa interação entre sistemas automatizados e operadores humanos remotos.

Seguros precisarão investir em proatividade tecnológica

Diante de todos esses fatores, o setor de seguros enfrenta a necessidade inevitável de inovação. As seguradoras terão de investir em proatividade tecnológica para acompanhar o ritmo das mudanças impostas pelo avanço dos carros autônomos. Isso envolve não apenas adaptar produtos e coberturas, mas também repensar suas abordagens para lidar com riscos que antes não existiam. A gestão de sinistros deverá considerar desde falhas tecnológicas até ataques cibernéticos, passando por dilemas éticos e responsabilidades de terceiros, como os motoristas remotos. Portanto, o futuro da mobilidade autônoma abre um leque de oportunidades e desafios para o setor de seguros, que precisará investir em proatividade tecnológica para alcançar relevância nessa esfera da mobilidade urbana que se desenvolve mais intensamente a cada dia.

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