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Novos seguros não decolam, e preços disparam

19.10.2022 - Fonte: O Globo

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Há um ano, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) promoveu uma desregulamentação no setor, a fim de dar maior liberdade às seguradoras para o lançamento de apólices customizadas, com a expectativa de baratear os produtos em mais de 40%. Entre as promessas estavam a cobertura parcial e o seguro intermitente, em que o cliente poderia “ligar e desligar” proteções e assistências quando quisesse. A novidade, no entanto, não pegou.

Grande parte das empresas não inovou em seus portfólios, e muitos clientes nem tomaram conhecimento da alternativa. O preço, por sua vez, foi em direção oposta ao esperado. Com o encarecimento de veículos, peças e combustíveis, o custo do seguro disparou, chegando a dobrar em alguns casos.

Segundo a Comissão de Automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), o segmento arrecadou R$ 32,3 bilhões de janeiro a agosto deste ano, crescimento de 33,3% na comparação com igual período de 2021. José Varanda, professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS), diz que, embora o interesse na proteção tenha aumentado com o retorno das atividades presenciais, a alta na arrecadação se deve principalmente ao encarecimento das apólices.

Investimento alto

A gerente de projetos Swellen Polide, de 34 anos, moradora de Niterói, tomou um susto ao renovar o seguro de seu Fiat Uno 2012/2012. O aumento foi de 40% em relação ao ano passado. Apesar de usar carro apenas nos fins de semana, ela considera a proteção indispensável, devido ao alto índice de criminalidade.

— Resolvi ver com meu corretor quais os itens que realmente seriam essenciais para mim neste momento. Abri mão do carro reserva e consegui diminuir em 10% o valor a pagar — conta.

O diretor executivo do conglomerado de seguros e crédito Wiz Conseg, Alexandre Kalache, aponta que o encarecimento dos veículos, com o impacto da Covid-19 e da guerra da Ucrânia, é um dos fatores que contribuiu para a alta dos seguros. A crise dos semicondutores, aliada à escalada da inflação, fez com que até os carros usados se valorizassem.

Um seguro completo para um Toyota Corolla modelo 2016/2017, por exemplo, que custava R$ 1.986,11 em 2021 e tinha franquia de R$ 2.384,50, passou para R$ 3.551,30, com franquia de R$ 3.150, na mesma empresa, uma alta de 78%.

Segundo o executivo, os clientes que já tinham hábito de proteger o carro não deixaram de contratar a cobertura, mas escolheram opções mais econômicas.

— Muitos clientes têm contratado linhas mais baratas, com cobertura para arrumar o carro só na rede referenciada ao invés de livre escolha, o que já podia ser feito antes da circular da Susep — observa Kalache. — Essa nova regulamentação não trouxe grandes efeitos. Das 16 seguradoras que são nossas parceiras, nenhuma oferece, por exemplo, seguro com a cobertura de apenas parte do carro.

Varanda acredita que a ideia não andou por falta de dados suficientes para calcular a sinistralidade (frequência e custo das ocorrências versus arrecadação), o que impede a previsão de caixa:

— As seguradoras não compraram a ideia porque a sinistralidade está muito alta. De uma hora para outra, não tem como sair cotando seguro sem saber o veículo que está sendo segurado. Na apólice de responsabilidade civil do condutor, por exemplo, ideal para motoristas de aplicativo que usam carros alugados, você pode estar dirigindo um carro possante, em que a chance de acidentes é maior, ou um carro popular. O risco é diferente.

Proteção completa

Christian Wellisch, sócio-fundador da Globus Seguros, estima que a mudança deva demorar ao menos três anos para “pegar no mercado”. Ele justifica que é caro investir em um novo produto para o qual ainda não há grande demanda e calcula que é mais vantajoso para a seguradora comprar a tecnologia de outra empresa, após ter se provado eficiente.

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