Jane Lucas: Feminista?
07.03.2024 - Fonte: Jane Lucas | Guerreiros dos Girassóis
Sim! Ela é! Atuante e combativa!
Jane Lucas, operadora do mercado de seguros há mais de 20 anos. Ex dirigente de Companhia Seguradora no estado do Rio Grande do Sul. Ex professora da Funenseg RS. Atual diretora da Cajan Corretora (corretora com especialização e foco em seguros empresariais).
Para além do mercado securitário, ela atua fortemente na área de pessoas.
Gosto de gente! Sou movimento e mudança! Assim ela se resume.
É a atual presidente da ONG Guerreiros dos Girassóis, que idealizou e fundou com o objetivo de levar livros, cultura e conceitos de emancipação às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Também atua como diretora do Instituto Transcendere (Centro de treinamento e terapias integradas), que fundou em 2015, voltado à formação e capacitação de pessoas.
Se nos seguros, o seu papel é identificar formas de minimizar os riscos, na vida pessoal é aventureira e amante dos esportes radicais. No seu currículo de aventuras, estão entre outros: salto em um dos maiores bungee jump de ponte do mundo (216 metros de altura do solo), em Plettenberg Bay, na África do Sul. Passeio de balão na Capadócia/Turquia. Rafting nas corredeiras do Rio das Antas. Tirolesa no Voo do Gavião. Jipeira e vice-campeã da 4.ª etapa feminina do Campeonato Sul Brasileiro de Jeep Cross.
Adora viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Segundo ela: o ato de viajar, expande a consciência e desenvolve novas habilidades. A pessoa volta para casa mais educada, gentil e empática, porque como estrangeira, foi hóspede e como tal, teve que ter um comportamento mais comedido no terreno alheio.
Também é escritora, com 04 livros publicados (três premiados nacionalmente e um adaptado para peça de teatro); mais de 14 participações como coautora em coletâneas/antologias publicadas; coordenou e lançou 04 livros, sendo um deles, escrito por apenados do Presídio Central de Charqueadas e outro, por crianças das Escolas do Campo. Por duas vezes (2021 e 2022), seus livros foram selecionados no Catálogo Autor Presente do estado, para serem objeto de oficinas em escolas estaduais.
Todas as minhas obras refletem uma escrita social (forte e direta), porque sou um animal político e como tal, não posso me furtar ao exercício pleno da cidadania, onde tenho a obrigação moral de trazer “provocações” sobre temas que são importantes para refletirmos enquanto sociedade. Me sinto realizada ao ver as releituras que os alunos leitores fazem a partir desses livros (textos, montagens de cenários, jornais, encenação de teatro, curta metragem etc.) e trazem para a sua comunidade. Significa que o processo da interpretação, análise e a aplicação do conhecimento adquirido, foi pleno. E esse é o objetivo.
Quando o tema é feminismo, ela diz:
Muito além de comemorar o dia “8 de março”, precisamos de discussões sobre o feminismo enquanto movimento que luta contra a discriminação de gênero. É necessária a busca da desconstrução dos estereótipos e padrões que limitam e “enquadram” a liberdade e a autonomia das mulheres.
Estamos vendo uma enxurrada de palestrantes e “coaches” trazendo eventos para mulheres, onde as falas são: mulheres empoderadas, poderosas, brilhantes etc. Mas a temática da “mulher livre”, pouco se fala.
Para ser livre, a mulher precisa saber o lugar que ocupa, seja na família, sociedade ou ambiente profissional. Representamos cerca de 52% do eleitorado e ainda temos pouca representatividade nos cargos políticos, para garantir que possamos ser ouvidas na implementação de políticas direcionadas às nossas reais necessidades.
Importante questionarmos: por que essa sub-representação feminina? É fruto apenas do movimento dos homens? Qual a nossa responsabilidade nesse processo?
A maioria de nós mulheres, não gostamos de falar de política em nossos encontros. Se uma ou outra traz esse assunto, é imediatamente rechaçada. Buscamos o riso e a leveza do encontro. Os homens quando se encontram, seja no jogo de futebol, no churrasco, nos eventos, além de cerveja, das brincadeiras, a política sempre está presente na conversa. É assunto corriqueiro e divergindo ou não, eles discutem e na discussão, o campo do conhecimento se amplia. E talvez, a manutenção do patriarcado e do machismo estruturado, também encontre sustentação nesse “modus operandi” de ambos, homens e mulheres.
Um fato interessante que registrei no ano passado (março), quando estive em um evento direcionado às mulheres, com público expressivo presente, onde a fala de apresentação de uma palestrante foi: “sou uma feminista conservadora”. As duas expressões revelam posições diametralmente antagônicas. Ser conservadora é uma posição que deve ser respeitada, assim, como ser feminista. Mas os termos usados da forma conjunta, expressam que a agente da fala, desconhecia os conceitos e logo, o lugar que se colocava. E ela estava passando essa mensagem para um número de mais de 600 mulheres.
Essa falta de conhecimento sobre o feminismo reflete, talvez, que nós, mulheres, precisamos deixar o campo do “raso”. Aprofundando os nossos conceitos sobre esse assunto e outros, também relevantes, através da leitura de livros (política, sociologia, história, filosofia etc.) e da partilha das ideias. Nossos encontros de amigas, para conversar, brincar e recheado com brindes de espumantes, também deve compor as conversas e discussões mais “sérias” (cenários, acontecimentos, tendências, candidatos etc.). À medida que exercitamos esse transitar por todos os assuntos, estaremos com certeza, mais preparadas para assumirmos posições de comando na política e no mercado de trabalho. Porque somente é LIVRE quem detém CONHECIMENTO.
Gostaria de finalizar, trazendo alguns pontos para reflexão.
Conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi assassinada a cada 6 horas, apenas no primeiro semestre de 2022.
Segundo o Dieese, somos a maioria na chefia dos lares e pelos dados registrados no site do governo (www.gov.br), mais de 79 % da docência de educação básica no Brasil é exercida por professoras.
Se somos responsáveis pela maioria das famílias e somos a maioria na educação de base das crianças. Por que continuamos a educar filhos que agridem mulheres e matam??