Guaíba: A luta de Ariane Luz para recomeçar após a enchente histórica
11.09.2024 - Fonte: Seguro Gaúcho l Andréia Pires
As inundações provocadas pela cheia histórica em maio de 2024 afetaram dezenas de cidades no Rio Grande do Sul, e Guaíba não foi exceção. Uma das histórias que emergem desse desastre é a de Ariane Luz, advogada, moradora do bairro Florida. Sem seguro para alagamento, ela e o pai, de 88 anos, enfrentam enormes desafios para reconstruir suas vidas.
O drama começou quando perceberam que precisariam deixar as suas casas, Ariane notou que a água começava a invadir a propriedade de seu genitor, um local onde jamais havia chegado. Preocupada, convidou-o para sua residência, esperando estarem mais seguros. Contudo, o que parecia um refúgio logo se mostrou vulnerável: a vala conhecida como Canal Trapezoidal da Bacia 6, que não recebe manutenção adequada, transbordou e inundou os terrenos próximos, incluindo o da entrevistada. "Mesmo com um muro alto, a água invadiu pelo fundo da minha casa", conta ela.
Com o avanço da enchente e sem alternativas, ela e o pai idoso, foram para um hotel em Guaíba, acreditando que seria uma situação passageira. Porém, ao receber uma ligação da vizinha relatando que a inundação estava tomando conta do pátio, a advogada voltou para casa. Ao chegar, encontrou seus quatro cães desesperados e ilhados sobre um sofá-cama que havia deixado para eles. "Os cachorros estavam em pânico, e a minha residência já tinha cerca de 10 centímetros de água", lembra.
Enquanto lidava com a própria moradia, Ariane também se preocupava com a propriedade de seu pai, um engenheiro aposentado. A água lá estava ainda mais alta. “Quando consegui voltar à casa do meu pai, foi devastador. Freezer, geladeira, toca-discos, tudo boiava. Os cachorros nadavam pelo pátio, e não conseguíamos pegá-los”, conta. Com ajuda de uma amiga, ela conseguiu resgatar os cães, que, assustados, só permitiram a aproximação após seis dias.
A devastação foi total: o idoso perdeu móveis, eletrodomésticos e objetos de valor sentimental. “Ele tinha uma coleção de discos e fotografias da minha mãe, que já faleceu. Como não conseguiu jogar fora, pediu que cavassem buracos no pátio e enterrou essas lembranças, como se estivesse fazendo um funeral”, revela a filha.
Sem auxílio financeiro ou apoio do poder público, a família tive que lidar sozinha com os danos. Após 28 dias hospedados em um hotel, conseguiram alugar uma casa no mesmo bairro. "Ainda estamos acampados", comenta, enquanto aguarda a reforma de sua residência e a do pai, que permanece inabitável devido à umidade e aos danos causados pela enchente.
A falta de seguro contra alagamento tornou o recomeço ainda mais difícil. “Não recebemos nenhum tipo de ajuda. O prefeito esteve aqui, viu a situação, mas até agora nada foi feito. Nós, moradores do bairro Florida, tivemos que nos virar sozinhos. O Executivo Municipal criou uma área de risco, para quem não estava em área de risco, e agora estamos sofrendo as consequências”, desabafa, referindo-se ao canal que transbordou construído em 2010.
Em meio à falta de ação por parte das autoridades, os moradores da região se uniram. "Fizemos um abaixo-assinado e protocolamos na prefeitura, exigindo uma solução para o canal. Queremos que algo seja feito para evitar novas tragédias", explica a advogada, destacando a urgência de uma resposta.
Ariane, assim como tantas outras famílias, continua a enfrentar os desafios de reconstruir sua vida. Sem seguro e sem apoio, a esperança agora está nas mãos da comunidade e na luta por mudanças. “Minha saúde mental está muito abalada. Ver o meu pai enterrar suas memórias foi uma das coisas mais dolorosas que já vivi”, conclui.