Falta de peças força seguradora a dar perda total
30.10.2023 - Fonte: Folha de São Paulo
Antonio Trindade, 66, é um dos mais conhecidos executivos do mercado de seguros. À frente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), ele monitora o que tem sido um pesadelo para empresas e consumidores: a demora na entrega de veículos acidentados.
O reparo tem demorado até seis meses e isso custa tanto que as seguradoras já preferem decretar a perda total.
Essa situação é reflexo da crise das montadoras?
A pandemia afetou toda a cadeia produtiva. Houve escassez de componentes. Faltam peças. Depois, veio a desaceleração econômica. Praticamente, todas as montadoras pararam ou encerraram a produção. A produção de carros novos caiu, aumentando o preço do usado entre 20% e 30%.
Como isso afetou as seguradoras?
Quando indeniza um carro, elas ficam deficitárias. Em um sinistro parcial de veículos, há a vistoria, liberação do conserto, compra e entrega das peças, os reparos e a entrega ao segurado. A federação tem um núcleo que acompanha as associadas e monitora as entregas.
A demora é tão grande assim?
Entre janeiro e março, foram 235 mil sinistros de automóvel e, deste total, 7% sofreram com o atraso de peças. Nesse período, foram encomendas 40.700 peças. As dez principais montadoras representaram 91% desses pedidos. Em agosto, ainda faltavam 7.100 peças dessa leva para serem entregues.
São sofisticadas?
Para-choques, faróis. Não estou nem falando de componentes mecânicos. Falta o básico do básico.
Sem produção de carros novos, o usado ficou mais caro. Isso aumentou os gastos com o veículo reserva?
Muito. Em 2019, os clientes ficavam com um carro extra 11 dias, em média, enquanto as oficinas credenciadas aguardavam as peças. Hoje, são 25 dias, no mínimo. As seguradoras adorariam resolver rapidamente. Quanto mais rápido, menos se gasta com aluguel do carro reserva. Se uma peça vai levar dois, três meses, até seis meses para chegar, pagamos logo a perda total. Tem sido uma prática no mercado e espero que não vire um novo normal. A gente fica com o salvado e é vida que segue.
Mas essa conta não fica com vocês, certo?
Essas coisas são automaticamente repassadas. A avaliação é que a absorção deste custo pode impactar no preço das próximas renovações de seguro de veículo. De alguma maneira isso acaba ficando na mão do consumidor.