Em entrevista exclusiva, André Thozeski fala sobre a necessidade de seguro contra enchente no RS
06.08.2024 - Fonte: Seguro Gaúcho l Andréia Pires
A tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul há três meses continua a impactar profundamente a população. A cheia histórica evidenciou a necessidade urgente de incluir coberturas contra alagamentos, enchentes e inundações nos planos de seguro básico. Para discutir essa questão, conversamos com André Thozeski, corretor de seguros desde 1988, voluntário no Sincor-RS desde 2000 e atual presidente da entidade desde 2022.
Seguro Gaúcho (SG): Você acredita que a inclusão de coberturas para alagamentos, enchentes e inundações deve ser limitada apenas a quem mora perto de rios, ou essa cobertura é necessária para todos os segurados?
André Thozeski (AT): "Não podemos disponibilizar uma cobertura tão importante como 'cláusula opcional'. Todo risco que possa causar grandes danos deve ser coberto na garantia básica, de maneira que todos os segurados em todo o país contem com a cobertura e paguem por ela. Agindo assim, as tarifas serão baixas, justas e serão pagas por todos. Se for 'cláusula opcional', só aqueles poucos que estão na iminência do risco a contratarão, de maneira que ela terá que custar tão caro que será inviável".
SG: Você mencionou, recentemente, que essa questão já começou a ser discutida na Fenacor. Poderia contar mais sobre essas conversas e como os profissionais do setor estão sinalizando essa necessidade?
AT: "Muitos profissionais corretores de seguros sinalizaram ao Sincor-RS que isso é uma necessidade. A entidade, por sua vez, levou à sua federação, a Fenacor, a demanda para que seja discutida junto à CNseg e à SUSEP".
SG: Como você vê a importância de uma conscientização nacional sobre a inclusão de cobertura para tragédias naturais nos seguros? Quais seriam os passos iniciais para alcançar essa conscientização?
AT: "O seguro tem uma função social importantíssima. Somente a 'instituição seguro' pode proteger empresas, condomínios, famílias e seus patrimônios. E só estará efetivamente protegendo quando cobrir todos os riscos aos quais empresas, condomínios e famílias estão expostos. E isso só acontecerá quando o mercado de seguros se conscientizar que todos os riscos capazes de causar grandes perdas devem estar na cobertura básica (e precificar isso adequadamente, e cobrar o valor justo necessário). Vê-se custos aviltados, baixíssimos, sendo praticados nos seguros de propriedades, numa ilusão de que 'se vender barato vamos vender'. Isso está errado! Os riscos devem ser adequadamente avaliados, precificados e cobrados. Já existem leis obrigando condomínios e empresas a contratar seguros que os protejam de todos os riscos que possam comprometê-los. Basta precificar corretamente e disponibilizar".
SG: Você destacou durante a participação em um painel, a necessidade de que a inclusão das coberturas contra tragédias seja um desejo coletivo e não isolado. Como o Sincor-RS está trabalhando para mobilizar os mais de 50 mil profissionais do mercado de seguros brasileiro para levar essa demanda dos segurados às seguradoras?
AT: "Todos os Sindicatos (Sincor) de todo o país, unidos em torno da sua Federação (Fenacor), são portadores deste clamor! É absurdo se, mais uma vez, assistirmos escorrer por entre os dedos atividades que eram, são e devem ser cobertas pelo mercado de seguros brasileiro e acabarem em outras mãos! Já perdemos o 'Acidentes do Trabalho', que foi para o INSS, já perdemos o DPVAT, que deixou de ser 'seguro' e passou a ser um apêndice da Caixa Federal! Com o DPEM foi o mesmo: em lugar de precificar adequadamente, se retiraram e deixaram a nação sem seguro por anos... Assistimos à migração de milhões de 'segurados' (que antes tinham seus caminhões, táxis e veículos em apólices de seguros) para as famigeradas 'associações de proteção veicular' porque as seguradoras resolveram que não gostavam mais daquele tipo de risco... Qual será a próxima tragédia? Entregar também as carteiras de seguros de propriedades para 'soluções alternativas'? Temos uma responsabilidade muito grande como mercado de seguros! Sejamos vigilantes".
A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul destacou a necessidade de revisitar as coberturas de seguros e incluir proteções essenciais nas garantias básicas, para que todos estejam devidamente protegidos contra os riscos de grandes perdas. A mobilização do setor é crucial para que mudanças significativas sejam implementadas, garantindo assim a segurança e a tranquilidade de todos os segurados.