Coface vê Brasil muito próximo a uma crise de crédito
28.02.2023 - Fonte: Estadão
Para a CEO no País da seguradora de crédito, escalada dos juros pode levar a esse cenário
O Brasil está “muito próximo” de viver uma crise de crédito diante da escalada dos juros, afirma a CEO no Brasil da seguradora de crédito Coface, Rosana Passos de Pádua. O cenário foi construído ao longo de 2022, ano em que a Selic deu um salto, e começa a mostrar seus primeiros efeitos.
O principal exemplo é o do setor de varejo, que tradicionalmente tem margens baixas, o que é fatal em um momento em que os juros chegam aos dois dígitos porcentuais. O caso emblemático é o da inesperada recuperação judicial da Americanas, mas outros nomes, como a Marisa e a Tok Stok, estão em busca de renegociações de dívida, o que demonstra o efeito do juro alto por um período prolongado sobre a saúde financeira das companhias.
Perspectiva de que juros demorem mais para cair agrava situação
“Para que as empresas tenham fôlego para pagar o serviço da dívida e amortizar, é preciso haver lucro muito robusto. Qual setor hoje tem uma lucratividade tão robusta?”, indaga Pádua. A situação é agravada pela perspectiva de que os juros comecem a cair mais tarde do que se esperava, algo que os bancos começam a antever diante dos ruídos entre o governo e o Banco Central.
Uma diferença em relação a cenários anteriores, segundo ela, é que neste momento os juros estão subindo em todo o mundo, não só no Brasil. Mesmo que comecem a cair, o crédito não deve voltar de maneira instantânea: tudo dependerá da situação da economia e também das finanças das próprias empresas.
Inadimplência elevada afeta consumo
O que se vê agora nos balanços também é efeito do aumento da inadimplência entre as famílias no ano passado, que machucou primeiro os resultados dos bancos. Pádua afirma que, no Brasil, cerca de 70 milhões de pessoas estão inadimplentes, ou seja, sem acesso a crédito. Isso as impede de consumir, e o varejo é o primeiro setor a perder fôlego.
Em um caso grande, como o da Americanas, há ainda os efeitos sobre a cadeia de fornecedores, muitos altamente dependentes de uma mesma empresa. Pádua diz que o uso do seguro de crédito no Brasil ainda é muito pequeno, embora a demanda tenha crescido neste começo de ano.