Aposentadoria dos sonhos
07.06.2022 - Fonte: UOL
Previdência privada é objeto de desejo da classe média brasileira, diz chefe da Icatu
Luciano Snel, CEO da Icatu, diz em entrevista exclusiva na série UOL Líderes que a previdência privada passou a ser um desejo da classe média brasileira. Hoje, um mercado de R$ 1 trilhão.
“Percebemos, antes da pandemia, que entre os produtos de proteção financeira e planejamento financeiro, a previdência privada passou a ser uma demanda do brasileiro. Ela se tornou um objeto de desejo da classe média”, afirma Snel.
A Icatu é uma empresa de capital 100% nacional e é a maior seguradora independente, especializada em seguros de vida, previdência, capitalização e investimentos.
Para o CEO, com a pandemia o brasileiro “perdeu até o tabu de falar sobre a morte” e, em muitas localidades, o seguro de vida resolveu a vida de uma família ou dos empregados de uma empresa.
O ano de 2022, afirma Snel, começou com um aumento de resgates porque as pessoas se anteciparam ao cenário de dificuldades, mas ele acredita que o mercado tende a se estabilizar.
Ele fala também sobre a questão dos seguros de carros, a necessidade de baixar os juros para o país crescer, e o aumento do número de jovens que contrataram seguros nos últimos quatro anos.
Maior interesse por seguros
UOL – Houve mudanças nos hábitos dos consumidores de seguros e previdências nos últimos anos?
Luciano Snel – Percebemos, antes da pandemia, que entre os produtos de proteção financeira e planejamento financeiro, a previdência privada, que é um produto relativamente complexo, passou a ser demandada pelo brasileiro, um objeto de desejo da classe média brasileira.
Acreditamos que isso começou lá atrás, com a queda da inflação, os juros estruturalmente baixos, o aumento da longevidade, a reforma da Previdência Social.
A portabilidade, que permite a migração entre seguradoras e entre fundos sem pagar Imposto de Renda, também ajudou a criar essa necessidade. Hoje esse é um mercado de R$ 1 trilhão.
E o que aconteceu na pandemia?
Com a pandemia, nós, brasileiros, percebemos o quanto somos vulneráveis, como a vida é frágil e as conexões afetivas ficaram mais fortes. Dentro das empresas, os empreendedores também entenderam que os colaboradores valorizam esse benefício.
Observamos rapidamente um aumento da curiosidade pelo seguro de vida. Isso se traduziu em um crescimento de quase 100% das novas cotações. As pessoas querem saber quanto custa, quais as coberturas, como cancelar, como pagar, e tudo em uma velocidade enorme.
No nosso caso, o faturamento de seguro de vida cresceu 25%. Costumo dizer que quem contratou um produto de seguro de vida se vacinou contra as incertezas financeiras do futuro. Esse é o nosso propósito.
O papel do seguro de vida
UOL – Houve aumento da sinistralidade durante a pandemia?
Luciano Snel – Obviamente no ano passado nós e outras seguradoras de vida sofremos com o aumento da sinistralidade por conta da covid. Mas, por outro lado, a mobilização dentro da companhia — desde a nossa central de relacionamento com o cliente até a área de operações — reforçou o nosso propósito e ajudou a empresa a crescer.
O seguro de vida tem um papel como agente de estabilização social e econômica muito forte. Não só no seguro de vida. No mercado de previdência, nestes últimos 18 meses, foram regatados R$ 120 bilhões.
Culturalmente, o brasileiro perdeu até o tabu de falar sobre a morte. Infelizmente, as pessoas sabiam quantas pessoas morriam por dia em sua cidade, em seu estado e no Brasil. Em muitas localidades, uma indenização de seguro de vida pode resolver a vida de uma família, e dos empregados.
Ter seguro de vida e previdência privada ainda é um luxo?
Queremos democratizar o acesso aos produtos de proteção e planejamento financeiro aos mais diversos perfis de pessoas, de idades, regiões e momentos de vida.
Com a ampliação das fintechs, das ferramentas digitais, do consumidor que faz a sua própria pesquisa ou busca um consultor para ajudar a tomar as decisões sobre suas finanças, é possível, sim, a previdência atingir e chegar aos mais variados perfis.
Informação para escolher bem
UOL – Como escolher entre tantos fundos de investimento?
Luciano Snel – Esse é um dos grandes desafios do mercado como um todo. Um dos nossos pilares é ajudar na educação financeira. Temos uma parceria com a Fundação Getulio Vargas com cinco cursos online gratuitos à disposição dos clientes. Além disso, há simuladores no site, onde o consumidor consegue escolher o canal que se sente mais confortável para contratar produtos.
Se ele escolher comprar por meio de um corretor, o papel deste corretor é entender o perfil do seu cliente e fazer uma curadoria, transformando os 300 fundos em dez ou em cinco opções para o cliente.
Mas para isso o consumidor precisa ser mais digital, certo?
O consumidor está muito digital. Comparamos a experiência para nos contratar àquela de assinar um streaming. Há a assinatura eletrônica, a checagem na contratação — no nosso site conseguimos facilmente trocar o meio de pagamento —, dá para checar o status, fazer resgate.
Qual a sua perspectiva para 2022?
Percebemos o aumento de resgates nesse início de ano. Acreditamos que as pessoas se antecipam à expectativa de cenários com mais dificuldades, não esperam o cenário chegar. O mercado tende a se estabilizar um pouco mais para o futuro.
Carros: momento complexo
UOL – A pandemia afetou a situação dos seguros de carros?
Luciano Snel – A Icatu não tem seguro de automóveis, mas eu, como vice-presidente da Confederação das Seguradoras, acompanho o que está acontecendo. O setor de seguro de automóvel teve menos fluxo de carros e de sinistralidade durante a pandemia, o que acabou se refletindo nos preços.
Depois, o mercado começou a voltar, mas com muita mudança na logística do automóvel e dos seus periféricos, como guinchos e assistências.
Antes era mais fácil concentrar esses equipamentos mais perto das áreas de trabalho ou das residências, mas isso mudou. As pessoas foram morar no interior, os horários não são mais tão concentrados, a logística é outra. Com a inflação e o preço do combustível altos, o mercado voltou a ficar um pouco mais complexo.
Complexo como?
A sinistralidade [acidentes] voltou a aumentar, mas a inflação levou ao aumento do preço dos automóveis. Com a falta de peças e esse desafio logístico global que a pandemia trouxe, isso fez com que o preço do automóvel aumentasse bastante.
Essa logística que acaba aumentando os custos da operação do mercado de seguro também traz maiores desafios. São fases e ondas em que o mercado vai se adaptando.
Crescimento e juros menores
UOL – Quais deveriam ser as prioridades do próximo governo?
Luciano Snel – Se tivermos um país com taxas de juros estruturalmente baixas de forma sustentável, haverá capacidade de gerar renda e emprego. Isso fomentaria os empreendedores, que empregam 50 milhões de pessoas. Eles irão inovar e criar empresas, novos segmentos, novas indústrias e voltar a fazer o país crescer.
Qual a sua opinião sobre as reformas que estão no Congresso?
O termo reformas é para ser utilizado e revisto continuamente por todos os governos, com ouvido muito aberto para entender o que a população mais precisa.
Da mesma forma que uma empresa como a Icatu prioriza e reprioriza os projetos constantemente, eu enxergo que as reformas também têm que ter um tratamento contínuo em função daquilo que o país e a população precisam a cada momento.
O brasileiro fala a verdade na contratação de seguros?
Não é relevante o número de pessoas que contratam seguro com a intenção de fraude. Costumo dizer que, quando você coloca um produto de seguro ou previdência para seus clientes, você gera um elo emocional maior do que uma transação financeira fria.
O segurado coloca o nome do filho, a idade, o nome do seu marido ou mulher. Isso acaba forçando as pessoas a serem o mais honestas possíveis para garantir que aquele produto perdure muitos anos e que funcione na hora que precisar.
Consciência juvenil
UOL – Como atrair o jovem ao seguro ou previdência privada?
Luciano Snel – No ano passado, 70 mil pessoas de 18 a 34 anos contrataram pela primeira vez um fundo de previdência com a Icatu. Este número é o dobro de 2017. No ano passado, isso representou um terço das pessoas que contrataram previdência conosco.
É um número muito relevante. Os jovens estão mais conscientes. Para mim, na previdência, há duas regras de ouro: poupe o máximo que puder e comece o mais cedo possível. E para o seguro há coberturas que são para si próprio, e não só para o caso de morte.
O aumento está relacionado à pandemia? Ou veio para ficar?
Acredito que são as duas coisas. Os jovens estão melhor informados digitalmente, e a pandemia também levou todos, de todas as idades, a usar mais ainda o meio digital nas suas rotinas. Isso também ampliou o alcance da informação.