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André Thozeski debate sobre mudança necessária do mercado de seguro frente às tragédias climáticas

12.07.2024 - Fonte: Seguro Gaúcho | Andréia Pires

SEGURO-GAUCHO (21)

Em sua participação no I Seminário Ead Seg News de Prevenção e Gerenciamento de Riscos Climáticos, realizado na tarde da quinta-feira, 11, André Thozeski, presidente do Sincor-RS (Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio Grande do Sul), apresentou análise da entidade sobre os impactos e lições da catástrofe no estado para o mercado de seguros.

No formato de linha do tempo, o corretor narrou os principais fatos vivenciados pelos gaúchos desde o final do mês de abril, quando as ondas de chuvas ininterruptas passaram a castigar o RS. Os acontecimentos que se seguiram, embora compartilhados pela grande mídia, segundo ele, não dão a real dimensão do que se viveu na ponta. “Foi uma tragédia que se agravou a cada dia que passava. A sensação era de viver o mesmo dia novamente, a cada manhã, uma vez que a catástrofe se ampliava diariamente”, relembrou.

Uma tragédia sem precedentes

Em 28 de abril, a enchente que começou no Vale do Rio Pardo, já havia atingido 15 municípios gaúchos. Dois dias depois o Rio Grande do Sul já contabilizava 8 mortos e vários desaparecidos, enquanto os veículos de comunicação noticiavam a queda de importantes pontes do estado. “No dia 1º de maio o governador já dizia que não haveria braços para fazer os resgates, devido a capacidade de atendimento do efetivo da Defesa Civil”, destacou.

André lembra que cumprida às previsões, “passamos a assistir o cidadão salvando o cidadão. Era emocionante ver o que estava acontecendo em várias regiões”. Foi neste hiato que o Rio Taquari, que tem a cota de alagamento em 16 metros, superou os 30 metros. Era só questão de tempo para toda a água da chuva que caiu sobre as áreas mais altas do RS, descessem, entrando em um único canal que a levaria para o mar.

“Temos 5 grandes rios que se encontram no Lago Guaíba, para juntos desaguarem na Lagoa dos Patos, e somente depois no mar. Foi essa junção que nos fez ver Porto Alegre e cidades vizinhas, serem alagadas sob sol brilhante. Em 20 minutos muitas pessoas já não conseguiam sair de casa caminhando ”, narrou o presidente do Sincor-RS, sobre o que foi presenciado em municípios que “nunca havia se formato uma poça de água. A falta de preparo para agir em situação de cheia, pegou populações inteiras desprevenidas”.

O Brasil unido pelo Rio Grande do Sul

Com o estado inteiro atingido pela enchente histórica, os gaúchos puderam ver a ajuda chegar de todo o Brasil. Além das doações de roupas, alimentos, água potável e outros itens, chegavam pessoas das mais diversas regiões oferecendo auxílio braçal. Um único abrigo serviu de socorro para 7 mil pessoas, fora aqueles que se abrigaram em casas de amigos e familiares.

“Tem uma frase que diz: As tragédias afloram o melhor e o pior das pessoas. E assistimos isso se confirmar com o registro de roubos e crimes. Empresas e residências que não perderam seus bens para a água, perderam para ladrões. Foram dezenas de presos, inclusive por molestar crianças e mulheres em abrigos”, lamenta o corretor, sem deixar de completar de que no final “o bem e o amparo venceram, felizmente”.

A importância dos seguros contra catástrofes naturais

Nos últimos dias de maio as águas começaram a baixar e foi possível ter a exata proporção da tragédia e do esforço que seria necessário para reconstruir as cidades. Ações imediatas foram feitas pelo Governo e outras instituições, enquanto o mercado de seguros mostrava velocidade na entrega de soluções. “Criamos um comitê de crise, destinamos uma chave pix única para buscar recursos financeiros e de forma organizada começamos a arrecadar doações e cadastrar famílias de securitários e corretores atingidas, que somaram ao todo 64”, conta Thozeski, destacando que o primeiro passo foi o de disponibilizar assistência psicológica. Na sequência foi realizada a entrega de kits para a limpeza das residências e os reparos elétricos, em parceria com os serviços de assistência técnica das seguradoras. Depois foi a vez dos kits escolares para crianças e adolescentes retornarem as aulas. “Na sequência passamos a alcançar recursos financeiros para as famílias assistidas fazerem as primeiras aquisições, para retornarem a vida em seus lares”, acrescenta. Lembrando também da atuação incansável de corretores e securitários em atender e liquidar sinistros com agilidade, muitos pagos entre 24h e 48h.

“O grupo continua e continuará atuando por muito tempo, o que só é possível num mercado de seguro sério e organizado, com securitários e corretores que se doam para fazer a função do seguro ser cumprida da melhor maneira possível”, salienta.

Num mercado que é fundamental para a reconstrução do Rio Grande do Sul, e que até a última análise parcial em 23 de junho, já havia registrado 3,9 bilhões de reais em indenizações, o corretor tem se deparado com a difícil tarefa de olhar nos olhos do segurado e dizer: “Você não tem cobertura! Não existe seguro que possa cobrir as perdas que vocês tiveram”!

Mas, como isso? André explica que “grandes catástrofes não estão amparadas nos seguros residências e de pequenas empresas”. O corretor vai além e provoca: “Estamos cumprindo a função social do seguro?”, lembrando que o mesmo mercado hoje disponibiliza cobertura para cerveja derramada, voz de cantores e pernas de bailarinos, no entanto, não oferta para as tragédias climáticas. Segundo ele, “é essencial que seja incluída a cobertura para eventos naturais na Cobertura Básica”. Assim, de forma justa, os clientes passarão a contar com um colchão de segurança, frente a catástrofes que devem acontecer em espaços de tempo menores, nas mais diversas regiões do país.

“É preciso repensar as apólices, disponibilizar nas coberturas básicas dos seguros, garantias para casos de tragédias. As pessoas pagam até 10% do valor de um veículo para ter ele coberto, certamente pagarão “zero vírgula alguma coisa por cento” para cobrir suas residências. É fato que não podemos mudar o passado, mas temos a obrigação moral de mudar o futuro”, finalizou.

 

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