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Tragédia previdenciária grega serve de exemplo para o Brasil

22.09.2017 - Fonte: CNseg

O problema é que a população não entende o sistema previdenciário e os políticos também não’, diz economista Platon Tinios, na 8ª CONSEGURO
A crise grega que abalou a economia global em abril 2009 mantém reflexos ainda bastante atuantes. E preocupantes. O economista grego Platon Tinios, em palestra na 8ª CONSEGURO, na manhã desta quinta-feira (21), apontou que a recessão na Grécia superou a depressão econômica norte-americana de 1929. Para ele, a recessão grega já supera em longevidade e danos o ocaso financeiro que assolou os Estados Unidos há quase 90 anos. A incapacidade de lidar com a questão previdenciária está na raiz do problema fiscal. Tinius destacou a ineficiência das reformas realizadas até agora. Já foram mais de 12 cortes de benefícios, as pessoas recebem até 50% menos do que recebiam, mas o problema persiste. Para ele, o país – e toda a Europa - não conseguirá fugir de um modelo com maior participação da previdência privada, o que não foi feito até agora. “O sistema é melhor que o que havia em 2010, mas não é suficiente. É muito ambicioso. Tudo é fornecido pelo Estado, com pouco papel para fundos privados. Há uma promessa de reposição de 80% (do salário da ativa), então, as pessoas não precisam procurar outras alternativas de previdência complementar”, resumiu. Tinios recordou que o PIB grego hoje é mais baixo do que era quando a crise foi deflagrada, registrando uma queda de 30%. O país recebeu três socorros financeiros internacionais para minimizar o impacto da crise na população. Mas o “remédio” mostrou-se apenas um paliativo, já que os problemas estruturais, como o déficit da previdência, não eram resolvidos. Um dos problemas, disse, é que a reforma da previdência acabou acontecendo no meio da crise, com o país pressionado por uma comissão de credores. “Antes, a Grécia tinha discussões sem mudanças. Depois, passou a ter mudanças sem discussões. E as pessoas diziam que a reforma fazia parte de uma agenda liberal, mas na verdade o sistema continua 100% responsabilidade do Estado”, contou. Só em 2016, quando recebeu o terceiro pacote de ajuda, a questão da previdência foi atacada de verdade. Mesmo assim, ele aposta que novos ajustes serão necessários. “Precisamos restabelecer o elo entre poupança das famílias, previdência e crescimento. Foi graças a isso que o país cresceu nas décadas de 50 e 60, depois que implantou a previdência, porque o sistema gerava poupança”, explicou, mostrando que o sistema ainda trabalha no sentido contrário, ou seja, drena poupança e gera problemas fiscais. Participando do mesmo painel, o economista Paulo Tafner disse que o Brasil enfrenta problema semelhante. Segundo ele, a reforma paramétrica, que altera a idade mínima de aposentadoria e está em discussão no Congresso, ataca uma parte do problema previdenciário, mas é necessário um modelo multidisciplinar com incentivos aos participantes para que façam outros tipos de poupança. Ele teme, porém, que o atual momento de recuperação da economia diminua o sentido de urgência da reforma. “Estava convencido de que teríamos reforma em maio. Agora, tenho certeza que não teremos mais esse ano. O risco agora é que os congressistas, vendo a economia crescer, não votem a reforma”, disse Tafner. Com um déficit consolidado na previdência da ordem de 5% do PIB, Tafner considera que o país está fazendo escolhas equivocadas. A sociedade brasileira escolheu gastar com aposentadoria mais do que em outras áreas. Gasta com aposentadoria por tempo de contribuição o equivalente a 13% do que gasta com transporte e sete vezes o investe no programa Minha Casa Minha Vida. “O Brasil tem estrutura demográfica jovem e gasta como países que têm estrutura demográfica velha porque permite aposentadoria jovem. 70% das aposentadorias femininas acontecem com menos de 55 anos”, frisou Tafner. Para Tinius, o maior problema é que a agenda política se sobrepõe a agenda da economia. A previdência não quebra, mas o país quebra. “O problema é que a população não entende o sistema previdenciário e os políticos também não. Há um analfabetismo dos números”, completou o economista grego. Também à mesa de debate, Edson Franco, presidente da FenaPrevi, citou alguns números sobre idade de aposentadoria, média de benefícios pagos, estrutura da previdência oficial, que pareciam ser do Brasil. Mas não. Eram da Grécia, antes do colapso do país que começou em 2010 e se agravou em 2015 com o atraso de pagamento da dívida. Franco perguntou a Tinios se era melhor realizar a reforma da Previdência aos poucos ou de uma vez somente. O economista grego foi pontual: "Fazer reforminhas aos poucos é pior".

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