Será que o mercado de seguros corporativos está chegando ao fim?
19.12.2016 - Fonte: Sindseg-SP via <a href="https://capitolio.com.br/noticias/2016/12/19/sera-que-o-mercado-de-seguros-corporativos-esta-chegando-ao-fim/" target="_blank">Capitolio Consulting</a>
De acordo com a agência de notícias Reuters, a BB Seguridade está avaliando a possibilidade de sair da área de grandes riscos, seguindo o exemplo de outras grandes seguradoras brasileiras como a Bradesco Seguros, Itaú Seguros e Sul América.
Caso isso aconteça, as repercussões para o mercado de seguros corporativos seriam no mínimo interessantes. Em sua parceria com a Mapfre, a seguradora do Banco do Brasil ocupa atualmente a liderança do mercado de riscos das empresas, segundo levantamento de Risco Seguro Brasil.
A lógica indicaria que a seguradora espanhola estaria em posição privilegiada para assumir a carteira da BB Seguridade. No entanto, as decisões tomadas por grandes multinacionais seguem preceitos não apenas locais, mas globais.
E, neste contexto, uma questão ganha força no mercado internacional: será que as grandes seguradoras vão sair de vez do mercado de grandes riscos?
Decisões recentes tomadas por grandes players do setor, como a Zurich e a AIG, alimentam esta dúvida. Elas ilustram uma das maneiras como as empresas estão reagindo ao contexto regulatório e às tendências do mercado de seguros, além de evoluções tecnológicas que devem alterar a maneira como a indústria funciona.
UM NOVO TEMPO
A possibilidade de que as linhas corporativas tenham se tornando pouco atrativas para as seguradoras foi analisada em detalhe por um editorial na edição de novembro da CommercialRiskEurope, uma das principais publicações especializadas no setor.
A revista argumenta que, em tempos passados, fazia todo sentido para as grandes seguradoras expandirem seus negócios para os ramos corporativos.
A lógica era simples: como elas já tinham de qualquer maneira estruturas e reservas de capital montadas em vários países para trabalhar com o grande público, bastava incluir a expertise de alguns profissionais qualificados para atender grandes clientes que lhes garantiam margens elevadas em contratos de alto valor.
Hoje, porém, o mercado é diferente. Por um lado, os clientes corporativos estão cada vez mais exigentes, pedindo coberturas mais complexas que forçam as empresas a ampliar suas equipes e reforçar a oferta de serviços tecnológicos.
Isso se complica porque a grande demanda por profissionais com a expertise necessária elevou o preço que as empresas têm que pagar por eles. Os investimentos em infraestrutura tecnológica e logística também aumentaram com a expansão das atividades internacionais dos clientes.
Para complicar mais a coisa, as novas normas de solvência de capital baseadas em risco que estão sendo implementadas por todo o mundo elevaram o volume de reservas que as seguradoras precisam colocar de lado em contrapartida para os grandes riscos assumidos.
Com os preços dos seguros de empresas em queda já há vários anos, ficou difícil para as empresas bancarem estes investimentos. O longo período de taxas de juros achatadas no mundo desenvolvido agravou a situação, já que está duro compensar resultados técnicos sofríveis com o desempenho das carteiras de investimentos.
Não deve surpreender, portanto, se os acionistas das seguradoras começam a perguntar se vale a pena continuar investindo no negócio de grandes riscos. Não é melhor simplesmente investir em tecnologia e vender seguros massivos pela internet, eliminando a necessidade de especialistas e intermediários custosos como os consultores e corretores?
Recentemente tem havido sinais de que isto pode estar acontecendo no seio de algumas empresas.
A CRE nota, por exemplo, que a Zurich decidiu assimilar a sua unidade de riscos corporativos à sua operação de seguros gerais. Já a AIG vendeu unidades de negócio na América Latina e outras partes do mundo. Antes, a RSA já havia seguido caminho parecido.
Se estas decisões forem indício de uma tendência global, elas significam más notícias para os compradores de seguros, que podem ter que lidar com um leque menor de alternativas para suas futuras renovações.
Por outro lado…
O editorial da CRE pergunta: se as seguradoras saírem do risco corporativo, quem vai atender as necessidades das empresas?
Porque os riscos enfrentados pelas empresas não só não vão desaparecer, como tendem a ficar cada vez mais severos. E ninguém com bom senso quer reter todas as exposições atuais e vindouras no balanço da empresa.
Mas há outras tendências em jogo que podem contrabalançar estes fatores. Por exemplo, as grandes resseguradoras estão procurando aumentar seu peso no mercado primário, a fim de diversificar seu próprio risco. Em recente relatório, a agência de qualificação AM Best já avisou: quem não diversificar suas atividades corre o risco de ser abocanhando por competidores de maior porte.
Um sintoma desta tendência pôde ser visto recentemente no Brasil quando a Swiss Re fechou um acordo com a Bradesco Seguros para assumir sua carteira de grandes riscos. Países emergentes, grupo do qual o Brasil ainda faz parte apesar de todos os esforços do Executivo e do Legislativo em sentido contrário, seguem sendo um alvo prioritário para desenvolver este tipo de estratégia.
Outra tendência interessante é o imenso fluxo de capital financeiro que tem chegado ao mercado ressegurador nos últimos anos e que abre a possibilidade de bolar novas formas de transferência de risco.
Um caso em questão foi a decisão recente do banco suíço CreditSuisse de lançar no mercado, com sucesso, um papel lastrado em seus próprios riscos operacionais. Há quem veja nesta iniciativa o futuro das transferências de riscos complexos, como os cibernéticos, pelas empresas.
E sempre há a possibilidade de que o mercado brando um dia chegue ao fim. A decisão do Fed americano no dia 14 de dezembro de elevar as taxas de juros serve como lembrete de que a atual conjuntura não deve ser eterna. Se os juros seguirem aumentando nos Estados Unidos, é possível que pare de chegar tanto capital ao mercado ressegurador, criando condições para um aperto de oferta e um consequente endurecimento de preços e condições.
O desafio para as empresas do setor é identificar para que lado o mercado vai caminhar e antecipar as mudanças sem perder o sangue frio. Como bem observou um grande banqueiro internacional: “É essencial não entrar em pânico. Mas, se for para entrar em pânico, é essencial ser o primeiro a fazê-lo.”