Seguro rural: animais assegurados minimizam prejuízos na pecuária
24.10.2017 - Fonte: Reportagem por Naiara Araújo | SF Agro
O serviço mitiga riscos que envolvem a morte de bovinos em caso de acidente, doença ou outras razões.
No município de Descalvado, no interior do estado de São Paulo, a fazenda Agrindus atua na pecuária de leite há mais de 70 anos. Com produtividade diária de 34 litros de leite por vaca, o bem mais valioso desse negócio é o rebanho formado por 3.900 poderosas vacas holandesas. Um animal desse grupo, quando está perto de completar um ano de idade, pode custar até R$ 8 mil nos leilões do setor.
Contratar seguros e utilizar cofres é uma prática normal quando se trata de joias, veículos e outros bens. Mas, quando o tesouro é um animal, ainda é incomum o produtor rural se preocupar com a proteção por meio de seguro. Apesar de ser uma ferramenta importante para o negócio, poucos produtores sabem que o seguro rural também é válido para os animais.
Seguro rural na pecuária de leite
Há dois anos, Jorge Jank, diretor da Agrindus, optou por contratar seguro rural para o rebanho leiteiro. Por causa das restrições do serviço, que não atende animais com menos de seis meses e com mais de 10 anos, ele tem aproximadamente três mil animais atendidos pelo seguro. “É um rebanho de animais puros e de valor bastante alto”, conta Jank. “Para nós, como é um rebanho comercial, essa cobertura busca reduzir riscos. ” Embora nos centros urbanos a principal motivação para contratar um seguro seja a falta de segurança, que leva aos casos de furto ou roubo, no campo esse problema não está na lista dos riscos que o seguro cobre. “Os problemas mais sérios são ligados aos eventos climáticos, é um seguro muito mais completo”, explica o diretor. Entre os riscos inclusos nessa modalidade de seguro estão acidente, doença, asfixia, incêndio, insolação, raio, intoxicação, parto, aborto, entre outros riscos.
De acordo com Karen Matieli, sócia-proprietária da corretora de seguros Denner Seguro de Animais, e membro da Comissão de Seguro Rural (Sincor-SP), o que mais motiva os pecuaristas a contratar o seguro para animais são os acidentes com raio e picadas de cobra.
No entanto, esse produto não cobre furtos. “O seguro não cobre roubo porque a gente precisa do animal para pagar a cobertura de vida”, explica Karen. Ela conta que é necessário identificar e analisar o animal da apólice para dar sequência ao sinistro. Ou seja, quando o animal é furtado, não é possível reconhecer o animal e dar continuidade ao processo.
Quem pode contratar?
Existem no mercado basicamente duas modalidades: o seguro pecuário, que protege todo o rebanho (de corte ou de leite), com uma apólice para no mínimo 50 animais. A outra opção é o seguro voltado para animais de genética superior, que pode oferecer uma apólice individual para cada animal.
A principal diferença entre as duas modalidades de seguro é que, no seguro pecuário elite, além da cobertura básica de vida, são disponibilizadas coberturas adicionais como transporte, prenhez, fertilidade, entre outras. Já no rebanho gado comercial, o seguro é acionado apenas para a cobertura de vida dos animais.
De acordo com a Denner Seguro Animais, a expectativa é de crescimento no número de apólices na safra 2017/2018. “O criador que se interessou no ano passado agora volta para contratar”, diz Karen. “Mas muitos não sabem que existe seguro de animal, [isso] é algo muito novo. ” Para Karen, a maior limitação desse setor é a falta da cultura no seguro na pecuária brasileira. “É uma ferramenta para mitigar os riscos da atividade. O seguro vem para proteger os riscos inesperados, que fogem do manejo, do cuidado e da parte sanitária. ”
Como funciona o seguro de animais?
No caso do seguro para gado de elite, que são para animais Puro de Origem (PO), a apólice pode variar de 4% a 4,5% do valor do reprodutor. Porém, o valor da apólice é calculado e varia de acordo com a idade, raça e valor do animal.
No caso de um touro avaliado em R$ 20 mil, a apólice vai custar ao produtor, em média, R$ 900. Em caso de sinistro, o segurado será indenizado em R$ 18 mil, que é o valor do animal com o desconto da Participação Obrigatório do Segurado (POS), que no exemplo foi de 10%.
Karen explica que a POS é uma franquia cobrada por cada animal. Essa franquia é determinada pela seguradora ao realizar a análise de risco. “Para um bovino que passou por cirurgia de abomaso há 1 ano, por exemplo, a seguradora pode inserir uma POS maior pois o animal apresenta maior risco de sinistro”, diz Karen. “O seguro é uma ferramenta que possibilita maiores investimentos em genética, tecnologia, manejo, pois se o inesperado acontecer, seu investimento estará protegido. ” Já para quem pensa em assegurar um rebanho, as condições de contratação do seguro são diferentes. Karen conta que só é possível dar um orçamento após analisar informações sobre os índices, as raças e a localização dos bovinos, que variam muito de acordo com a realidade da fazenda e dependem dos dados de vários animais.
A viabilidade do seguro na pecuária
De acordo com Jorge Jank, cada pecuarista deve fazer as suas contas e avaliar se o seguro vale a pena. Porém, ele acredita que esse é um investimento importante para o setor. “Eu recomento investir no seguro de animais. Você não tem nenhum ganho específico, mas cobre uma eventualidade”, afirma. No Brasil, o limite máximo de cobertura de cada animal é de R$ 300 mil, já para equinos o limite chega a R$ 500 mil.
Para o diretor da Agrindus, os riscos que o seguro cobre atualmente atendem a realidade do pecuarista brasileiro. Mas, ele espera que novos serviços surjam nos próximos anos. “Esse tipo de seguro precisa ganhar mais maturidade e incluir uma questão de risco ligado à produção. Em vez de assegurar uma situação de catástrofe, incluir uma situação de produtividade menor que o esperado”, diz Jank.
Apoio do governo é fundamental
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou no início de outubro a liberação de mais R$ 197,4 milhões para a execução do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural para este ano. De acordo com informações do governo, os recursos devem beneficiar os grãos de verão, frutas e ainda segmentos do café, olerícolas, pecuária e floresta. Em agosto, o Ministério do Planejamento já havia liberado R$ 180 milhões do orçamento para a execução da política de seguro rural do Mapa.
Até o início de outubro, o Mapa havia recebido 32 mil apólices de seguro para subvenção, relativas a mais de 2 milhões de hectares. De acordo com informações do ministério, a expectativa agora, com mais esse recurso liberado, é totalizar até o fim de novembro cerca de 5 milhões de hectares amparados e em torno de 70 mil apólices de seguro rural com subvenção. Para este ano, o governo prometeu R$ 400 milhões e liberou R$ 377,4 milhões.
Mesmo assim, o montante deveria ser maior para atender o setor. Sem o auxílio do governo fica difícil porque, segundo Karen, a margem de lucro do produtor já é muito pequena para investir no seguro rural sem subsídio. “O recurso da subvenção não é suficiente e muito produtor fica sem seguro por falta de subvenção”, afirma Karen. “O ideal para o país seria entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão”, afirma.