Desemprego alavanca seguro para pagar prestações
26.09.2016 - Fonte: em.com.br
Cresce o mercado de seguros voltados para quitar compras parceladas em caso de desemprego. No primeiro semestre, indenizações somaram mais de R$ 663 milhões A crise do mercado de trabalho – que este ano fechou mais de 650 mil vagas – levou muitos brasileiros a conhecer de perto uma modalidade de seguro de baixo valor, que promete quitar prestações em caso de desemprego. Geralmente, a proteção, que tem parcelas de baixo custo, próximas a R$ 10, é feita junto com o contrato de um financiamento, empréstimo ou parcelas de dívidas de cartão de crédito, crediário e cheque especial. No primeiro semestre, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a modalidade conhecida como seguro de prestações ou prestamista deu um salto no volume das indenizações: o percentual cresceu 23%, totalizando mais de R$ 663 milhões. O principal motivo dos resgates foi a perda involuntária do emprego. O mercado desse seguro de pequeno porte é próspero, movimentou R$ 3,7 bilhões no primeiro semestre e tem despertado o interesse de bancos e seguradoras. A carteira que vem garantindo clientela farta pode ajudar as famílias em momento de aperto com as prestações, mas, ao mesmo tempo, é preciso atenção, porque as cláusulas de exclusão podem ser muito desfavoráveis ao consumidor. O crescimento da modalidade também expõe um ponto crítico do segmento: a informação que nem sempre atinge o beneficiário. Muitos acabam aderindo ao produto, mas não sabem ao certo como podem de fato usá-lo. Para o coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, ao vender o produto não basta que os bancos ou redes de lojas entreguem uma apólice de extensa leitura, com letras miúdas, ao consumidor. Também não vale empurrar o produto na fatura, sem antes consultar o cliente. “Os vendedores do produto devem explicar ao consumidor em quais circunstâncias ele poderá usar o seguro, quais são as carências, qual prazo ele tem para solicitar a indenização, quais documentos vai precisar.” E ainda: “Em uma apólice de seguro, muitas vezes, mais importante do que saber o que está coberto é se informar sobre o que a modalidade não cobre”, alerta. o ano passado, Gilmara Silva, de 21 anos, contratou um seguro prestamista no valor de R$ 7,99 e foi pega pela desinformação. Ela conta que aderiu ao produto porque achou a proposta interessante. Na loja de departamento na qual fechou o negócio foi explicado que o seguro quitaria sua fatura em caso de desemprego involuntário. Quando Gilmara pagava a sétima prestação, o inesperado aconteceu e ela foi dispensada da loja onde trabalhava como atendente. “Quando procurei o seguro para pedir a indenização, não consegui quitar nenhuma dívida. Informaram que o produto tinha uma carência de 12 meses. Fiquei decepcionada, paguei a fatura e cancelei o cartão”, contou. Regras Marcelo Barbosa alerta que a informação ainda é uma pedra no sapato do segmento. “Esse é um produto que pode ser interessante para o consumidor, mas desde que ele conheça de fato as regras.” O seguro prestamista também prevê coberturas em casos de morte e invalidez permanente e alguns produtos também oferecem cobertura em caso de incapacidade temporária. A auxiliar de dentista Eliete Ribeiro, de 34, diz que conhece o produto vendido em lojas de departamento, mas acredita que as regras da operação não são ainda claras para o consumidor. Apesar de a venda do seguro de prestações ser popular nos balcões de lojas, o Sindicato dos Corretores de Seguros (Sincor) diz que essa é uma prática que deve ser evitada pelo consumidor caso não exista no balcão um corretor de seguros capacitado para explicar sobre a modalidade e esclarecer dúvidas. “Assim se evitam dores de cabeça ou a compra de gato por lebre”, defende Dorival Sousa, vice-presidente de Relação com o Mercado do Sincor-DF e diretor da Federação Nacional dos Corretores de Seguro (Fenacor). Segundo o executivo, o impulso no volume de indenizações pagas no primeiro semestre teve como principal motivo o desemprego. De acordo com a Fenacor, o freio no financiamento e na concessão de crédito repercutiram negativamente na venda do produto para micro e pequenas empresas, onde houve queda de aproximadamente 20% no segundo trimestre desse ano frente igual período do ano passado.