A precificação do seguro para carros sem motoristas
08.11.2016 - Fonte: Revista Apólice
Há pouco tempo o mercado brasileiro começou a falar sobre a tecnologia da telemetria e da análise de motoristas por meio de aparelhos tecnológicos que monitoram como eles dirigem. Agora, uma nova questão tecnológica a ser pensada chega à indústria do seguro: os carros sem motoristas. Saindo das peças de ficção científica para as ruas, esse automóveis já estão sendo testados. Algumas montadoras já fazem planos para colocá-los nas ruas em breve, ao alcance de todos. Confira abaixo uma matéria realizada pelo Insurance Journal, veículo dos EUA, sobre o que está rolando entre carros sem motoristas e o mercado de seguros por lá: A precificação do seguro para carros sem motoristas “Esse é um novo mundo para os seguradores. A indústria precisará de uma gama completamente nova de ferramentas de dados para lidar com isso.” Assim afirmou Michael Macauley, CEO da Quadrant Information Services, um fornecedor de análises de precificação para seguros contra acidentes. Ele se refere aos veículos autônomos, que já estão chegando ao mercado. A companhia Ford Motor pretende começar a vender carros sem motoristas, autoguiados, como serviços de táxis até 2021. Além disso, quer que eles cheguem ao público comum até 2025. Os veículos não terão volantes, pedais de freio ou quaisquer outros controles para ocupantes humanos. A montadora quer baixar os custos ao máximo, o suficiente para fazer veículos autônomos acessíveis a milhões de pessoas, conforme afirmou Marj Fields, CEO da empresa em comunicado recente. Macauley nota que atualmente o seguradores de automóveis baseiam suas taxas no que eles sabem sobre o motorista, o local em que ele mora e o carro. A combinação entre um motorista adolescente, um novo Corvette Stingray e uma vizinha com alto índice de crimes, por exemplo, dispara as taxas. Um motorista de meia idade com um histórico impecável, uma vizinhança pacata e um Honda produz uma análise de taxas completamente diferente. Mudanças No entanto, agora que a indústria está confrontando uma situação em que não haverá mais motoristas, a idade e o histórico de conduta ao volante do proprietário se tornará irrelevante, de acordo com o especialista. Decisões sobre coberturas e taxas serão baseadas em um largo arranjo de variáveis, entre eles os padrões de tráfego, predominância climática e, acima de tudo, o histórico das diversas tecnologias envolvidas. Identificar os responsáveis por essas tecnologias específicas pode não ser fácil. “Esses veículos”, diz Macauley, “serão trabalho não apenas para uma única fabricante, mas para um consórcio”. Ele nota que o anúncio da Ford sobre seus próximos carros sem motoristas traz parcerias com a Velodyne (empresa de sensores que capturam imagens em alta resolução da área ao redor do veículo), SAIPS (uma empresa de tecnologia de Israel, comprada recentemente pela Ford), Civil Maps (companhia da Califórnia que desenvolve mapas em 3D de alta resolução) e a Nirenberg Neuroscience (compania de tecnologia especializada em reconhecimento de objetos e em trazer às máquinas níveis de inteligência semelhante a de humanos). Os concorrente da Ford também já estão se mexendo. A BMW, a Mobileye e a Intel, por exemplo, recentemente anunciaram uma parceria para desenvolvimento de tecnologia para carros sem motorista que deverá ser aplicada em um ambiente compartilhado em 2021. Macauley afirma que surgiram dúvidas sobre a segurança dos veículos autônomos, especialmente depois que um piloto de testes de um carro desse tipo morreu em um acidente, quando o carro sem motorista modelo Tesla S se chocou contra um semitrailer na Flórida, em maio deste ano. Em comunicado oficial sobre o incidente, a Tesla não delineou o nível de engajamento de participação do motorista na hora da batida, mas foi percebido que “nem o piloto automático nem o motorista perceberam que havia algo se aproximando, o freio não chegou a ser acionado”. Automático ou híbrido A Administração Nacional de Segurança nas Estradas, dos EUA, está investigando os acidentes da Tesla também para esclarecer as implicações para segurança que essas novas tecnologias trazem. Mas, reguladores de segurança tendem a favorecer os veículos. Mais do que 35 mil pessoas foram mortas em acidentes de carros nos EUA no ano de 2015, com erros humanos causando 94% deles, de acordo com a agência. A administração emitiu uma cartilha federal para os testes em carros autônomos que deixa grande parte dos fabricantes livres para experimentar, embora o governo também deixe a porta aberta para um sistema pré-aprovado no qual as fabricantes precisão da aprovação do regulador de segurança de veículos antes de venderem os automóveis ao público. De acordo com Macauley, algumas montadoras – incluindo a Ford – estão buscando carros totalmente computadorizados e sem motoristas humanos porque elas sentem que os modelos híbritos, que permitem o controle humano em certos níveis, como os carros da Tesla, contém um inaceitável nível de risco. A Google, por exemplo, que possui seu próprio desenvolvimento de carros autônomos), optou por carros sem direção e sem pedais depois de permitir que seus colaboradores dirigissem os carros de testes da empresa. “Houve um breve período no qual as pessoas ficavam muito nervosas e monitoravam o carro cuidadosamente”, afirma Nathanial Fairfield, engenheiro da Google, “e então eles começaram a relaxar e confiar no sistema, depois eles confiaram além da conta nesse sistema e começaram a se distrair”, completou. Após observar um motorista inquieto em seu banco procurando um carregador de celular, os engenheiros da Google decidiram que seria muito arriscado criar um sistema no qual seria esperado que um motorista humano assumisse o controle em um momento crítico. Os sinistros nesses casos traz desafios únicos. Em parte porque o comportamento do motorista ainda é um fator contributivo. A Tesla sustenta que o piloto automático é apenas um recurso auxiliar – que os motoristas precisam manter suas mãos no volante e estarem preparados para assumir o controle a qualquer momento. Os fãs da Tesla lamentam que não existam dados compilados das vidas que foram salvas ou dos acidentes que foram evitados graças à tecnologia. “Obviamente, não dependerá da indústria de seguros determinar quando os carros sem motoristas entrarão nas ruas, como eles irão operar e quais tipos de tecnologias eles usarão. Mas é, no entanto, dever dessa indústria de seguros entender a situação e avaliar os riscos trazidos por diferentes players, carros, vias, climas usando uma variedade de tecnologias”, afirma o analista da Quadrant. Ele completa, ainda, que, para fazer isso, seguradores precisarão de um “banco de dados de análise robusto, baseado na nuvem e de alta velocidade.” Mas o fato de que as pessoas estarão nas estradas à mercê da tecnologia demonstra que a importância de ter a certeza de que os motoristas estão devidamente segurados é extremamente grande, assim como será a demanda por esses novos tipos de seguro.