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Escola das Emoções: o que a pandemia pode deixar de ensinamentos?

30.04.2020 - Fonte: Seguro Gaúcho

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Neste período de pandemia em que o necessário distanciamento social vem provocando o confinamento das pessoas, o Seguro Gaúcho aborda a questão sob o ângulo emocional.

No Brasil, fazem mais de 30 dias que as pessoas estão sendo orientadas a manter isolamento social para evitar o contágio com o Coronavírus. Entretanto, a convivência doméstica excessiva pode provocar conflitos e gerar sensações de desconforto emocional. Além disso, outros problemas assolam a comunidade, como a insegurança financeira e o desemprego. Será que essa situação atípica e sem precedentes na história atual poderá deixar ensinamentos ao ser humano? Para responder a esses questionamentos e abordar o tema com mais profundidade, segue abaixo entrevista com o criador da Escola das Emoções, José Pedro Vianna. Graduado em Administração, Vianna também possui formação em biopsicologia, yoga e meditação.

Seguro Gaúcho – Muitas pessoas estão confinadas em casa, o que acarreta um convívio excessivo. E isso vem provocando muitos conflitos pessoais. Como amenizar esse problema e tratar o lado emocional?

Escola das Emoções - Existem muitos estudos a respeito das dificuldades decorrentes do confinamento. Ninguém gosta de ter sua liberdade cerceada e quando isso acontece ficamos bastante incomodados. As pessoas devem aceitar que estão passando por um momento difícil e, portanto, aumentarem sua autocompaixão. Para tanto, devem evitar a auto-cobrança ou as comparações com quem está ainda produzindo na mesma intensidade ou com aqueles que ainda não sentiram os efeitos da crise. Ao invés disso o mais saudável seria levantar questões do tipo: como eu posso me tratar bem frente a esse momento complicado? O que as emoções mais desafiadoras que sinto nesse momento estão me avisando em relação às necessidades de meu corpo e de minha mente? Infelizmente temos a tendência de nos julgarmos muito e de não acolhermos nossas dificuldades e fraquezas.

Certamente essa postura tende e intensificar a frequência de emoções como o medo e a raiva. Vivemos em uma sociedade que não estimula o ser humano a conhecer as pessoas profundamente. A tendência quando conhecemos alguém é nos apresentamos informando nossa profissão, formação, o que possuímos, onde moramos e que cidades e países já conhecemos. Entretanto, o ser humano é muito mais do que isso. Mesmo pessoas com muito tempo de amizade, parentes próximos e até mesmo casais, muitas vezes não sabem de informações relevantes na vida de seus amigos, parentes ou parceiros.

Frente a um momento como esse, em que temos de conviver ininterruptamente com pessoas que costumávamos estar apenas por algumas horas, as nossas vulnerabilidades, assim como nossas sombras projetadas no outro que nos espelha, são escancaradas. E essa situação é desafiadora para aqueles que não estavam buscando olhar para suas fragilidades e agora terão que olhar para si e para o outro de uma forma intensa que não é muito agradável e, por vezes, bastante dolorida.

Seguro Gaúcho - De que maneira é possível amenizar essa situação?

Escola das Emoções - Através do respeito e da comunicação não violenta. Precisamos entender que no momento em que eu estou sentindo uma emoção forte existe uma mensagem junto. As emoções são funcionais, ou seja, elas tem um sentido e uma razão de estarem vibrando em nosso corpo. A pergunta que sugerimos fazer frente a emoção é: qual a necessidade que preciso atender? As emoções são mensageiras de necessidades. Quando temos consciência daquilo que precisamos, conseguimos falar de uma forma menos agressiva e menos violenta tanto com o outro quanto com nós mesmos. Além disso, quando conseguimos ter consciência das nossas necessidades temos muito mais condições de supri-las. Também, quando acolhemos tanto os nossos sentimentos como o dos outros, sem julgamento de certo ou errado, a tendência é que cresça a empatia, pois ela facilita a comunicação, permitindo uma conexão maior. Quando a gente se abre e se assume vulnerável, geralmente o outro sente-se confortável e seguro para também demonstrar para nós suas dores.

Seguro Gaúcho - Em relação à insegurança financeira provocada pela paralisação da economia, como podemos conviver com essa situação?

Escola das Emoções - Aceite sem medo essa insegurança pois ela é real. Se existe a perspectiva de estar sem dinheiro dentro de um período isso é uma ameaça real. Precisamos ver o medo, não como uma fraqueza, mas sim como um alerta em relação a alguma coisa que eu preciso cuidar. Em relação a esse temor é fundamental que as pessoas pensem que estratégias elas tomarão para satisfazer suas necessidades da melhor forma possível. Quando começamos a trabalhar para cuidar das nossas necessidades, conseguimos diminuir questões ligadas à insegurança.

Seguro Gaúcho - De que maneira esse isolamento social pode nos ensinar? Que lição ele pode trazer para a sociedade?

Escola das Emoções – Esse momento, por atingir praticamente todos os povos, pode gerar aprendizados tanto em nível individual, quanto sistêmico. Pensando sistemicamente, essa paralisação geral parece ser um pedido de pausa do nosso planeta frente a desenfreados movimentos predatórios do homem para com a natureza da qual ele é parte. Nas últimas décadas o ser humano focou apenas em satisfazer seus desejos, sem pensar em termos holísticos e integrais. Tal conduta está fazendo com que ele colha os efeitos dessas ações. Parece um momento para redescobrir nossa relação com todos seres humanos, afinal uma refeição na China pode interferir na saúde e economia global.

Precisamos também repensar nossos hábitos de consumo que não contemplam os demais seres vivos como, plantas, animais e oceanos, por exemplo. Como algumas pessoas não vinham refletindo muito sobre suas atitudes em função da velocidade com que a vida vinha atropelando-as, essa aceleração desconecta a consciência da percepção do presente. Por outro lado, a desaceleração facilita a presença, o retorno para o aqui e agora, onde a vida realmente está. Portanto, podemos sair da ilusão do futuro e ganhar mais vida plena. Esse momento que estamos vivendo pode servir para ressignificar nossa conduta, mesmo que com sofrimento, a fim de termos força para a transformação intensa que o planeta precisa.

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